terça-feira, janeiro 06, 2009

Fim de ano - 2˚ dia - parte 1

Resumindo: chegamos em JB, fomos recebidos pelos amigos, encontramos nosso "B and B" e constatei que minhas aulas de inglês com o professor zimbabweano estão dando certo. E sim, já experimentei um antílope no almoço.

Dia 28, acordamos bem cedo, a ideia de nossos anfitriões era fazer um tour, eles já tinham todos nossos passos planejados, muita sorte não? Fomos tomar um bom café da manhã, vale apena lembrar que o café da manhã por aqui são de dois tipos: continental - café, leite, frutas, cereais e torradas ou cooked - Bacon, ovos fritos, batata- frita, nuggets e ketchup... optamos pelo continental.


De lá partimos para o
Lion Park, sim estavamos de férias, fazendo passeios de turistas e nada melhor que ir ver leões africanos em um parque de leões. Diferente do Kruger Park, este é particular, todos os animais foram comprados, e por isso não estão completamente soltos em uma região.

Eles vivem em grupos pequenos, dentro de uma grande reserva e todos separados por cercas eletrificadas, sendo alimentados pelo homem. Isso viabiliza vê-los de pertinho, ao contrário do Kruger, onde é preciso ter "sorte" para encontrar os animais. No Lion Park a maioria das vezes é possível ver e chegar perto deles.


Logo na entrada passamos por um grande terreno repleto de vários tipos de antílopes. Mesmo dentro desta estrutura de parque os animais são muito grandes, e com cores muito vivas, bem diferente dos zoológicos.

Mas a atracão principal eram os leões. E lá estavam eles, separados por uma cerca. Avistamos os primeiros e para nossa surpresa eram leões brancos. Depois estudando rápidamente na Wikipédia descobrimos que eles são africanos e apenas possuem uma mutação genética, um tipo de "albinismo leonino" , mas nem por isso eram menos interessantes, pelo contrário.

Era um grupo de dois machos e várias fêmeas, ao total deveriam ser em torno de oito. Neste parque, assim como nos outros, podemos entrar com o carro e se dermos sorte andar muito perto deles, posso dizer que demos muita muita sorte, pois os leões estavam agitados e ficaram a cercar o carro. Em certos momentos a Thá ficou realmente com medo de ser atacada, pois embora estivessemos em um Jeep 4x4 gigante, os leões se mostravam muito mais fortes e velozes que nós.

Divirtam-se com as fotos!
Esta última foto é muito importante, note que quem cuida de abrir e fechar os portões é uma sul-africana, sem nenhum equipamento de segurança, ela está a pé, abre e fecha os portões e não tem nada entre ela e os leões, a não ser o portão.

Apesar de ser um parque com certeza muito rico, seus funcionários parecem não ter muitos direitos, até onde os "safaris" ajudam ou não os africanos?

Em seguida, saímos dos leões brancos e entramos na área das hienas, que estavam a brincar e a correr com um pedaço de madeira.

Mas eram muito deselegantes...

Nossa próxima visita iria mostrar toda a elegância de um animal africano, nada como ver as chitas bem de perto, no Kruger tinhamos visto uma muito grande em cima de uma árvore, ela estava a comer um alce que havia carregado para cima da árvore, mas tudo era tão longe que nem fotos conseguimos tirar. Aqui conseguimos chegar bem perto, eram quatro, uma estava separada, não sabemos ao certo, mas tudo indica que se tratava de uma femea no cio, será?
E finalmente fomos ver os leões, aqueles africanos grandes e de cara fechada! Sem comentários....

Mas o melhor ficou para o final, depois de tudo isso o parque reserva uma área onde não o carro, mas você entra a pé, ficando junto com filhotes de leões, nos divertimos muito com estes gatinhos que rasgaram minha calça jeans. Foram os 20 Rands mais bem gastos da viagem!

Este dia ainda teve muitas surpresas, mas fica para amanhã. Agora vou na despedida do B. Ele está partindo amanhã de Maputo. Como disse anteriormente, temos muitas festas, de chegadas e partidas, temos que nos acostumar a isso.

ps. Parte das fotos foram tiradas pelo Al.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Fim de ano 1˚ dia

Depois de um longo tempo na África do Sul, cá estamos de volta!
Muito a contar e muito a refletir sobre nosso vizinho africano.

Vamos começar a postar somente agora pois não tivemos como fazer isso de lá. Desde já gostaríamos de agradecer a um casal amigo que foram nossos guias turísticos nesta viagem; Al. e An, muito obrigado por todos os dias de nosso "Happy New Year"!

dia 27 - 1˚dia de viagem

Partimos de Maputo, em direção a Johannesburg dia 27 de Dezembro. O ponto onde pegamos o "chibombo" foi em frente ao Correio, aquele mesmo das cartas perdidas! A viagem durou cerca de 07 horas, com apenas uma "paragem" onde mais algumas pessoas entraram e tivemos tempo para um almoço rápido de 10 minutos.

Tínhamos algumas metas para essa semana de férias:

1 - comprar algumas coisas que em Maputo são muito caras
2 - adquirir algum artesanato sul-africano
3 - visitar 3 cidades (Johannesburg, Pretoria e Durban)
4 - resolver o problema de visto da Thá
5 - saber mais sobre a história da África do Sul

O ônibus não é assim uma "Viação Itapemerim", mas dá para ir, tem ar condicionado e tudo mais. Partimos às 7hs, seguimos pela N40, uma estrada que vai de Maputo, passa pela fronteira em Ressano Garcia, segue com o nome de N4 e nas últimas duas horas de viagem torna-se N12, sentido Johanesburg. Passamos ao lado de um dos portões do Kruger Park, o maior safari da África do Sul, onde é possível avistar da estrada Kudus, Impalas e outros Antílopes.

Essa foi a nossa rota:




Na fronteira nada de novo, um pouco de bagunça, muitas pessoas indo e vindo. O bom é que desta vez, tivemos mais tempo para as fotos. Como era final de ano, a fila era enorme. Sul-Africanos com seus carros de luxo, iates e traillers entrando em Moçambique, rumo as praias paradisíacas do Norte e do outro lado, Moçambicanos se aventurando na terra dos Afrikkans em busca de conforto, hotéis, teatros, restaurantes e bom atendimento.

A fronteira de Ressano Garcia é uma das maiores entre Moçambique e África do Sul. É por ela que passamos para fazer nossas compras em Nelspruit e para passear no Kruger Park.

Por esta placa dá para ver que a preocupação com a Cólera e com outras doenças não é muito levada a sério, vimos apenas esta em inglês, nada em português e nem sobre malária, ou outras informações.

Desta vez o trajeto que fizemos foi diferente. O ônibus nos deixou na fronteira de Moçambique e após carimbarmos nosso passaporte, atravessamos a pé para o outro lado, já na África do Sul.

Para aqueles que resolvem viajar em um sistema mais econômico, existem os "chapas" um meio de transporte não legalizado. Tratam-se de vans, muito velhas, que levam as pessoas para um ponto específico, isto é, poderíamos pegar um chapa para a fronteira e de lá um outro para JB. Não há nenhum corforto, nem segurança, é comum as histórias de chapas que quebram ou largam os passageiros no meio da estrada.

Foto da fronteira, lado sul-africano: vendedores de "comidas" e "chapas" ao fundo.

Chegando em Johannesburg (JB)

África do Sul, ao contrário de Moçambique, cultiva boa parte de seu território, durante a viagem é possível ver as plantações de cana de açúcar, laranja, todos com sistema de irrigação e muito bem cuidados. Já na estrada nota-se a diferença entre os dois países. Em Moçambique o que mais se vê são: caatinga, casas bem pequenas e "machambas" - plantações de subsistência.

Outra coisa que chama a atenção é o número de mineradoras que existe por toda a África do Sul; enormes. Montanhas de minérios, ouro, platina e outros metais. Ao redor, casas simples, feitas de telhas de zinco, onde os pobres trabalhadores vivem. Foram nestes locais que a xenofobia do segund semestre do ano passado eclodiu de maneira mais agressiva, locais afastados das cidades grandes sem infra-estrutura. Na foto ao lado uma montanha de minério de ferro em meio a paisagem.

Depois de seis horas de viagem, a estrada começou a ficar mais "urbana", com carros, e que carros, nada de carros populares, aqui a coisa é séria!

A cidade surge no
horizonte e com ela prédios, universidades, shopping centers.

Engraçado é perceber como as coisas estão invertidas para nós. Este ano buscamos passar as férias em uma cidade grande e fugir da calmaria e tranquilidadade de onde trabalhamos e vivemos. Para um paulista é muito estranho pensar assim!

Chegamos por volta das três horas da tarde em JB, nosso amigos já estavam a nossa espera e como estávamos morrendo de fome (por culpa da Thá que não deixou eu almoçar na fronteira!) fomos direto a um restaurante, o primeiro ponto turístico de JB; a estátua de Mandela ao centro de um grande complexo de lojas, restaurantes e hotel cinco estrelas.

O almoço foi muito bom: comi meu primeiro antílope com molho de cogumelos acompanhado de um excelente vinho sul-africano.

A noite fomos para o Monte Cassino, aqui o conceito de cassino é mais próximo de um centro de compras, um Shopping com inúmeras lojas, teatro. Estava em cartaz "A Bela e a Fera" da Disney. A decoração temática, lembra a Itália, com "casas, torres, fontes", muito parecido com o que eu já havia visto "em fotos". As pessoas que visitam e frequentam esse enorme espaço são sul-africanos, turistas, indianos e muçulamanos. Aqui as "mulheres ninjas", as mulçulamanas com burcas que cobrem todo o corpo e rosto, passeiam livremente, sem problemas e preconceitos.

Ao saírmos do cassino três coisas chamaram a nossa atenção:

1 - Na entrada e saída além dos costumeiros guichês que servem para pagar o estacionamento; eles usam "pregos no chão" que furam os pneus dos carros, caso o condutor não tiver o pago o estacionamento ou esteja fugindo.

2- Ao sair do cassino; o segurança pára o carro e pede ao motorista para ver as chaves. Dessa maneira ele checa se não foi feito uma ligação direta e o carro não está sendo roubado.

3 - Nas ruas é engraçado ver a vizinhança. Praticamente um muro de frente para outro muro, sem janelas ou portas. A cidade é constituída de condomínios fechados, não existem crianças nas ruas, pessoas caminhando, em alguns locais nem calçada existe, apenas muros.

Depois de nosso excelente jantar, diga-se de passagem - comemos deliciosos sushis e sashimis, fomos para o nosso B and B "Bed and Breakfast". Casas grandes, que são adaptadas para receber visitas, ou para serem alugadas a turistas. Praticamente uma Kitnet. Cada apartamento tem quarto, cozinha e banheiro totalmente equipado (torradeira, geladeira, fogão, panelas...) além de uma área de convivência, piscina, churrasqueira e estacionamento.

Após esse longo dia fomos descansar. Sem saber o que nos reservava no dia seguinte...

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Feliz Ano Novo! Happy New Year!

Postagem rápida.

Os dias aqui estão sendo cheios de novidades, meu inglês está super afiado "inglês africano" .
Durban é uma cidade fantástica! O clima de ano novo foi igual ao do natal... mas nada como ter brazucas a sua volta! Fizemos uma festa entre nós! Está valendo muito estes dias!


Feliz 2009!

domingo, dezembro 28, 2008

Johannesburg aí vamos nós!

Infelizmente o Natal já se foi, e acabamos não escrevendo nada, basicamente passamos um Natal sem muito clima natalino. Por Maputo ter muitos muçulmanos esta data fica um tanto apagada.
Mas um casal de brasileiros nos salvou! Passamos o natal com eles, com direito a peru, farofa e muitas guloseimas, também fizemos um amigo secreto, onde ganhei uma cadeira de acampamento e a Thá um artesanato que depois vamos postar uma foto e vocês me digam o que acham...

A boa nova é que estou escrevendo de Johannesburg, estamos em uma viagem fantástica pela N4 uma estrada que liga Maputo a capital da África do Sul, tudo preparado para visitarmos parques, museus e tudo que uma grande cidade pode oferecer. Depois partiremos para Durban uma cidade litorânea, onde vamos passar nossa virada de ano Africana!

Ainda estamos vivendo tudo e praparando um material muito bom para postar, estamos montando um diário de viagem com fotos e depois vamos passar tudo. Garanto que nossos dias aqui estão sendo "movimentados".

Para dar um gostinho, esta é umas das primeiras fotos em johannesburg (é assim que se escreve o nome da cidade por aqui!)

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Blog de Turismo? Será?

Já era estranho ver "pontos vermelhos" que sabe Deus como chegaram a este blog, quem está no Chile, Japão, Alemanha e o que dirá dos tantos "Tugas" Portugueses que entram no site, fora os brazucas de Goiás, Manaus, e tantos outros estados. Espero contribuir e informar um pouco mais sobre este continente, "gigante por natureza".

Em qualquer noticiário internacional, observem bem, África é sempre uma "mancha" clara de onde não se fala nada; crise energética, tecnologias, dinheiro, economia, mega shows, carros, até mesmo em turismo e locais paradisíacos, nada! Fora a idéia equivocada de que África é um país.


Até mesmo sobre a copa do mundo os brasileiros praticamente esqueceram que a próxima será aqui, na África do Sul, já estamos preparando a de 2014 e pulando a de 2010. 

O continente só aparece rapidamente com notícias de malária, aids, miséria, fome, golpes militares, e no final de ano em algum especial para tocar nossos duros corações.

Como esquecer 22% de nosso planeta, ou como conseguimos ignorar 22%? É como não conhecer toda a América do Sul, Europa e mais alguns países a sua escolha ao mesmo tempo, ou se preferir, peguem 3 vezes e meia o Brasil e tire do mapa mundi. Isso é para termos uma ideia de quanto não conhecemos de nosso planeta, de nosso raça e de nós mesmos.

Ásia - 43.810.582 km²

África - 30.221.532 km² 

América do Norte 24.709.000 km²

América do Sul - 17.850.568 km²

Europa - 10.498.000 km²

Oceania - 9.008.458 km²

Brasil - 8.514.876,599 km²

Recentemente e inesperadamente este blog foi indicado para o melhor blog de turismo (?) no "Best Blog Brasil" e comecei a "martelar a cabeça" para entender o que meus textos tem de turismo.

Como assim turismo? Quem foi o "louco" que acha o Congo um ponto turístico, ou Sudão, ou mesmo Moçambique? Foi então que percebi o quanto errado eu estava.

Basicamente o turista é aquele viajante, que parte de sua casa para um novo local, com o intuito de diversão, conhecimento e prazer. Existe mil tipos de turistas e de turismos. Se segurem nas "cadeiras", mas África é o melhor turismo que alguém pode fazer em sua vida!

Parem para pensar,o continente possui 53 países, é o berço da civilização, e posso encher a boca para dizer "em África, tudo se tem ": hotéis de luxo, praias paradisíacas, maravilhas naturais, animais vivos, livres e reais, povos, culturas, civilizações praticamente tudo que uma pessoa tem de estudo pode ser visto e vivido aqui.

Onde podemos visitar países comunistas, entender a liberdade de expressão, vivenciar uma revolução social, conhecer a base religiosa de um povo, saber as raízes culturais de mais da metade do mundo e o principal, saber e dar valor a sua cultura e ao seu país de origem?


Ai vai meu convite, não é fácil viver ou visitar qualquer um dos países da África, mas é aqui que tudo é real. Para que ir ao Louvre se temos o Egito? Para que irmos para Roma, se aqui temos o berço religioso tribal de inúmeras etnias; China se temos todo o mistério de Marrocos? E posso, com certeza, para cada ponto turístico do mundo dar um de igual "magia" por aqui.

E além destes muitos mais, a experiência de ver um campo de refugiados, a emoção de ajudar, realmente ao próximo, a visão do racismo, e a compreensão de que nosso mundo não é apenas nossa casa, nossa cidade ou nosso país.

Agora vai o convite, “O Best Blogs Brazil é uma forma de reconhecer o trabalho de quem bloga no Brasil, selecionando os melhores em cada área que contribuíram para o crescimento da blogosfera como um todo e que no ano de 2008 forneceu conteúdo de boa qualidade, convidou à reflexão, emitiu opiniões, trouxe novidades, inovou, enfim, fez um bom trabalho neste ano”. Bom é isso espero o voto de todos, clique para votar,o período de votação vai até 14 de janeiro, então avisem a todos os colegas e se estiverem putos, venham para Maputo!

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Último Sábado antes do Natal!

Correria com amigos secretos, filas, trânsito, árvore de natal, presentes, falta de tempo e stress. Nada disso tem aqui!


Nada disso aconteceu este ano, tirando eu ter a experiência de ter que entrar em um "talho", como se chama o açougue em Moçambique, de resto nem "pai natal", papai noel, eu vi por aqui. Quer dizer, ver eu vi na televisão, e era de uma propaganda da Angola e nada gordinho!

Aqui as festas de fim de ano não fazem muito sucesso, acho que por dois motivos:
1 - os moçambicanos na maioria são muçulmanos não comemoram natal, nem aniversário, nem ano novo
2 - os estrangeiros que aqui comemoram pegam o 1˚ avião de volta pra casa
E nesta eu e Thá ficamos aqui com meia dúzia de "gatos pingados" brasileiros, sorte nossa ter um casal de amigos organizando um Natal, se não fosse por eles estaríamos ferrados!

Nosso final de semana foi tranquilo, andamos pela cidade com o "Beatlejuice" um carrinho vermelho caindo aos pedaços que a empresa me empresta, mas não posso reclamar, ele nos leva para todos os lados!

Seguem algumas fotos que fizemos, nós dentro do carro; claro! Não sou louco de tentar ficar tirando fotos e andando pelas ruas; isso é pedir para arranjar problema.


CFM (Caminhos de Ferro de Moçambique), onde durante as noites se torna uma "baladinha" recheada de brancos com suas verdinhas. Nessa estação também foi filmado o Blood Diamond - Diamante de Sangue com Leonardo Dicaprio.
Escultura aos combatentes da Grande Guerra, logo em frente ao CFM.

Mais fotos da vida por aqui: estes são os chapas, o meio de transporte mais comum dos cidadãos Moçambicanos. Eu já andei num destas, mas depois que a Thá chegou parei de andar, ela precisava de mim vivo aqui! ha ha



Algumas imagens dos prédios da Baixa, e claro o comércio nas ruas, onde se compra tudo, e nada tem preço, tem que negociar até a água.

Diálogo entre um estrangeiro e um comerciante de qualquer coisa na rua:

C - Bom día (atenção ao acento)
G - Quanto custa este óculos?
C - 500 Meticais; patrão
G - Tá maluco, não quero! Tá caro, vou embora
C - Ok Ok patrão, me fala teu preço.
G - Pago 50!
C - Ixi, (fala em shangana para me intimidar), leva por 400 (e já coloca o óculos na minha cabeça)
Em seguida, saio andando e aparece mais 2 vendedores de relógios, tomadas, botões...
C - Ok patrão, 300 e fechamos o negócio.
G - Pago 100!
(e ao mesmo tempo, tenho que falar para os outros milhares de vendedores que se procriaram ao meu redor que não estou interessado no produto deles)
C - Tenho 8 filhos, duas mulheres; tô a pedir! O óculos é bom de marca, patrão. (marca paraguaia feita na china)
G - Pago 100 e mostro o dinheiro (agora já são uns 8 vendedores em volta)
Com o olho brilhando ao ver a nota de 100, ele responde:
C - Ok, vou aceitar por o patrão ser brasileiro!

Resultado: é preciso muita paciência!

foto: vendedores a beira mar e uma Mama vendendo caju, com filho na capulana levada as costas.

Ah; nesse fim de semana, conhecemos uma brasileira que veio se encontrar com o namorado que vive aqui em Moçambique. Como sempre, ela chegou, porém, suas malas não. Isso é um aviso a todos que viajam para cá, saibam que vocês veem num voo e suas malas no voo seguinte. Não se desesperem, não achem que roubaram suas malas.

E essa brasileira que me refiro, lia o blog. Portanto recebemos a primeira leitora que aceitou o desafio: "Ta puto, Vai para Maputo!"

quinta-feira, dezembro 18, 2008

A viagem de um Zimbabweano

De Gweru a Maputo um pequeno relato de um viajante
em busca de uma vida melhor
Liberty Dillen Dhlalcama está ficando famoso. Desde que começou a dar aulas para mim e Thá sua vida deu uma melhorada, não por ter aparecido no blog e muito menos por ter sido citado em uma matéria na Globo G1, mas por além de dar aulas para nós, à partir do ano que vem ele dará aulas para funcionários de uma Embaixada aqui em Moçambique.

Durante nossas aulas, temos longas conversas, e em uma delas, nosso professor contou como foi a jornada de sua cidade natal; Gweru até Maputo.

Nascido em Novembro de 1979, formado em Tecnologia da Informação, Dillem sempre estudou no Zimbábwe, onde deixou seus pais, 3 irmãs e um irmão.

Contando sobre seu cotidiano, Dillen afirmou que pode ver claramente a queda do País (Robert Mugabe assumiu quando ele tinha um ano de idade). Segundo ele as cidades eram muito ricas e bem estruturadas, ruas asfaltadas, bem iluminadas, com água, luz e sistema de esgoto.

Descreve que não é como Maputo, sua cidade, a terceira maior do Zimbabwe é " muito mais bonita, existiam várias salas de cinema, era possível comprar qualquer coisa do mundo nas inúmeras lojas". Até que com os anos, tudo começou a faltar, as empresas começaram a fechar e a inflação começou a subir.

Basicamente cada país Africano teve um processo de Independência diferente. O Zimbabwe fez um acordo com os estrangeiros Ingleses que lá viviam, para que eles não deixassem o país de uma hora para outra, “quebrando” a economia do país, como a maioria dos países africanos pós independência.

"Os estrangeiros tiveram 20 anos para deixarem o país". De início foi bom, pois o país se tornou independente e não sofreu tanto com a fuga de empresas e dinheiro, mas agora Robert Mugabe está nacionalizando empresas e expulsando os "estrangeiros", mas em 20 anos muitos deles se tornaram Zimbabweanos, têm filhos, família e vida no Zimbabwe.

Com a inflação descontrolada, devido as nacionalizações e a saida das empresas estrangeiras "não havia mais referência para preço de nada, de manhã íamos para o trabalho, sem saber quanto que iríamos pagar pelo maxibombo (ônibus) na volta. Ás vezes pagávamos 3 vezes o valor pago pela manhã, no final do mês, o salário não dava pra nada. Começamos a trabalhar de graça", conta.

Para manter o controle do País, o partido do governo (ZANU-PF) organiza reuniões partidárias "convidando" a população a participar. Dillen afirma que por conta dos seus estudos na universidade, era sempre convidado a essas reuniões. Aqueles que não iam poderiam ser presos, espancados e até mortos.

Percebendo que sua segurança e trabalho não estavam mais garantidos, decidiu abandonar seu país.

Para onde ir?

É interessante observar que, para quem decide sair do Zimbábwe, não há muitas opções, viajar para outros países; (Europa, América) requer muito dinheiro, documentos e autorização de governos, poucos, ou quase ninguém consegue cumprir estes quesitos. Resta os países fronteiriços Moçambique, África do Sul, Botswuana, Zâmbia - e a região das "quatro fronteiras".

Zâmbia é um país muito atrasado e pouco desenvolvido, Botswana distante e há relatos de violência, África do Sul ainda carrega as sequelas do "apartheid", há racismo entre grupos étnicos e contra os estrangeiros de todos os Países.

Moçambique é o único de lingua portuguesa, ex colônia portuguesa, tornou-se indenpendente em 1975 e ficou em guerra civil durante 16 anos. Moçambique é talvez o mais pobre, mas desde o fim de sua guerra civil não há relatos de xenofobia, racismo ou guerras étnicas, sua economia cresce 8% ao ano, durante sos últimos 10 anos.

Dillen viu nesse país o mesmo que eu, uma possibilidade de crescimento. Utilizando das ferramentas que têm; formação universitária e idioma inglês fluente, pensou que pudesse ter um diferencial e encontrar um bom emprego e uma nova vida

A viagem

Na mesma época em que me preparava para ir para Moçambique; primeiro trimestre de 2008, na ciade de Gwere, um Zimbabweano fazia os mesmos planos; tirava passaporte, comprava passagens, arrumava suas coisas e se despedia de seu País. A viagem para Moçambique foi a primeira jornada fora de seu País, ele nunca esteve tão longe de casa.

Partindo de Gwere, pegou primeiramente um ônibus até a capital Harare, e de lá outro para Mutare, já próximo a fronteira com Moçambique. Em um percurso de quase 9 horas, sem paragens, sem comida em cadeiras apertadas e velhas viajavam com ele, Zimbábweanos a visitar parentes, viajar, e alguns como ele indo em direção a fronteira. (veja no mapa)



De Mutare para a fronteira, Dillen foi obrigado a utilizar o "chapa", uma Kombi muito velha (veja foto dos chapas de Moçambique) que faz o transporte até a fronteira.
Foto: Chapas em Moçambique, meio de tranporte púplico 5 MT

Já comentei aqui mas não custa nada repetir, passar por uma fronteira terrestre é algo muito interessante, ver os portões de grades e arrames farpados, a cruzar todo o horizonte, filas de pessoas a apresentar documentos e carros a serem revistados, tudo com um ar que mistura asiedade e medo é algo medieval, realmente MEDIEVAL nada de “guichês”, passaportes, ordem ou limpesa, mas existem os freehops, que básicamente vendem bebidas.

Em Moçambique

Passada a Fronteira, Dillen estava em território Moçambicano, mais especificamente na província de Manica, assim como qualquer fronteira, havia o grande vazio, um cerrado e uma longa estrada.

O dinheiro que tinha para a viagem havia acabado, e para continuar a jornada, Dillen pediu ajuda a uma zimbabweana, que vinha com ele no chapa. Ela iria cruzar a fronteira com muito dinheiro e pediu ajuda a ele para esconder o dinheiro em suas meias, cueca, sapatos.

Foi por intermédio dessa ajuda que ela se prontificou a pagar um chapa da fronteira até a cidade de Chimoio.

Já em Moçambique, Dillen percebeu o começo do seu desafio. A única pessoa com quem ele conseguia conversar era com a mulher dos “milhares de dólares zimbabeueanos”, que assim como ele, fala fluentemente shona. Os demais passageiros eram todos moçambicanos, conversavam em portugês ou dialetos, no chapa não havia ninguém que falasse shona ou inglês.

Com o cansaço, nosso professor acabou por dormir e ao acordar em seu destino; Chimoio, ele se deu conta de que a a mulher havia descido no meio da viagem e não tinha pago sua passagem. Em Chimoio ele conseguiu ligar para um representante de sua igreja que foi até lá acertar o valor da viagem que corresponde a 50 meticais = 2 dólares.

Ele começou a trabalhar como caseiro em Chimoio, e foi se deslocando por Moçambique até chegar em Maputo, capital.




Documentos

Assim como qualquer estrangeiro em outro país Dillen se vê com um dilema, resolver como ficar no país. Muitos africanos atravessam as fronteiras sem documentos, outros como Dillen tem passaporte, mas não querem voltar, porém Moçambique não dá visto de moradia pois a maioria deles não tem trabalho, casa ou dinheiro.

A solução passa pelo “jeitinho”, que pode custar muito caro a um africano, mas que desta maneira se consegue um atestado de nascimento, e com ele todos os documentos de um Moçambicano. Mais para frente eu escrevo sobre isso, por hora Dillen está tentando resolver o problema de seu visto.

Atualmente

Em Maputo Dillen conseguiu ajuda para imprimir alguns currículos (até isso é difícil), deixou em algumas empresas e ongs e começou a dar aulas de inglês de graça para os Moçambicanos, ele não deixou claro como fazia para viver ou morar, mas sei que não foram momentos fáceis, os moçambicanos sem dinheiro, constróem de "palha" pequenos cubículos ao relento e moram desta maneira. São 3 calças Jeans, 5 camisetas, meias, dois pares de tenis, um sapato e um fato (paletó), boa parte destas coisas dadas por mim e pelo Victor (nosso ex romnater) estes são os bens materiais que ele possui.

A história de Liberty Dillen Dhlalcama, é a mesma história de inúmeros Zimbabwanos, em fuga de suas casas, e é a mesma história que se repete nor inúmeros países Africanos, atualmente a guerra ou a “crise”está presente no Zimbabwe, Uganda, R.D. do Congo, Sierra Leoa, citando os principais.