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sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Um presente para Mugabe

Hoje é aniversário do "presidente" do Zimbabwe Robert Mubgabe (21 de Fevereiro de 1924), o quê mandar para ele de presente?

Podemos pensar e tentar selecionar pelo que ele gosta: o Zimbabwe. Mas ele já falou que é dele, por isso não vale a pena dar o que ele já tem, talvez outro país? Acho que não, isso dá muita dor de cabeça.

Casas? Ele tem várias, acabei de saber que ele está terminando uma mansão na China.

Talvez um carro, mas tem que ser um belo carro, aqui gostam muito dos Hummers, quem sabe ele ainda não tenha, duvideodó.

Uma festa? Quem iriamos convidar? A maioria daria uma desculpa esfarrapada e não iria a festa e eu já tenho planos para hoje, além de ser difícil enconatrar garçons para a festa, a maioria parece estar com Cólera, eta desculpa esfarrapada para não se trabalhar.

Talvez algo de ouro... acho que sua mulher já comprou muito.

Bom talvez algo mais simples, já sei, vou dar uma limpadinha na praça de Moçambique que leva seu nome, será uma ação para a comunidade e em homenagem a ele, se bem que constantemente tem acidentes de carros nesta praça, acho que a praça foi mal desenhada.
Praça Robert Mugabe, na baixa da cidade de Maputo

quinta-feira, dezembro 18, 2008

A viagem de um Zimbabweano

De Gweru a Maputo um pequeno relato de um viajante
em busca de uma vida melhor
Liberty Dillen Dhlalcama está ficando famoso. Desde que começou a dar aulas para mim e Thá sua vida deu uma melhorada, não por ter aparecido no blog e muito menos por ter sido citado em uma matéria na Globo G1, mas por além de dar aulas para nós, à partir do ano que vem ele dará aulas para funcionários de uma Embaixada aqui em Moçambique.

Durante nossas aulas, temos longas conversas, e em uma delas, nosso professor contou como foi a jornada de sua cidade natal; Gweru até Maputo.

Nascido em Novembro de 1979, formado em Tecnologia da Informação, Dillem sempre estudou no Zimbábwe, onde deixou seus pais, 3 irmãs e um irmão.

Contando sobre seu cotidiano, Dillen afirmou que pode ver claramente a queda do País (Robert Mugabe assumiu quando ele tinha um ano de idade). Segundo ele as cidades eram muito ricas e bem estruturadas, ruas asfaltadas, bem iluminadas, com água, luz e sistema de esgoto.

Descreve que não é como Maputo, sua cidade, a terceira maior do Zimbabwe é " muito mais bonita, existiam várias salas de cinema, era possível comprar qualquer coisa do mundo nas inúmeras lojas". Até que com os anos, tudo começou a faltar, as empresas começaram a fechar e a inflação começou a subir.

Basicamente cada país Africano teve um processo de Independência diferente. O Zimbabwe fez um acordo com os estrangeiros Ingleses que lá viviam, para que eles não deixassem o país de uma hora para outra, “quebrando” a economia do país, como a maioria dos países africanos pós independência.

"Os estrangeiros tiveram 20 anos para deixarem o país". De início foi bom, pois o país se tornou independente e não sofreu tanto com a fuga de empresas e dinheiro, mas agora Robert Mugabe está nacionalizando empresas e expulsando os "estrangeiros", mas em 20 anos muitos deles se tornaram Zimbabweanos, têm filhos, família e vida no Zimbabwe.

Com a inflação descontrolada, devido as nacionalizações e a saida das empresas estrangeiras "não havia mais referência para preço de nada, de manhã íamos para o trabalho, sem saber quanto que iríamos pagar pelo maxibombo (ônibus) na volta. Ás vezes pagávamos 3 vezes o valor pago pela manhã, no final do mês, o salário não dava pra nada. Começamos a trabalhar de graça", conta.

Para manter o controle do País, o partido do governo (ZANU-PF) organiza reuniões partidárias "convidando" a população a participar. Dillen afirma que por conta dos seus estudos na universidade, era sempre convidado a essas reuniões. Aqueles que não iam poderiam ser presos, espancados e até mortos.

Percebendo que sua segurança e trabalho não estavam mais garantidos, decidiu abandonar seu país.

Para onde ir?

É interessante observar que, para quem decide sair do Zimbábwe, não há muitas opções, viajar para outros países; (Europa, América) requer muito dinheiro, documentos e autorização de governos, poucos, ou quase ninguém consegue cumprir estes quesitos. Resta os países fronteiriços Moçambique, África do Sul, Botswuana, Zâmbia - e a região das "quatro fronteiras".

Zâmbia é um país muito atrasado e pouco desenvolvido, Botswana distante e há relatos de violência, África do Sul ainda carrega as sequelas do "apartheid", há racismo entre grupos étnicos e contra os estrangeiros de todos os Países.

Moçambique é o único de lingua portuguesa, ex colônia portuguesa, tornou-se indenpendente em 1975 e ficou em guerra civil durante 16 anos. Moçambique é talvez o mais pobre, mas desde o fim de sua guerra civil não há relatos de xenofobia, racismo ou guerras étnicas, sua economia cresce 8% ao ano, durante sos últimos 10 anos.

Dillen viu nesse país o mesmo que eu, uma possibilidade de crescimento. Utilizando das ferramentas que têm; formação universitária e idioma inglês fluente, pensou que pudesse ter um diferencial e encontrar um bom emprego e uma nova vida

A viagem

Na mesma época em que me preparava para ir para Moçambique; primeiro trimestre de 2008, na ciade de Gwere, um Zimbabweano fazia os mesmos planos; tirava passaporte, comprava passagens, arrumava suas coisas e se despedia de seu País. A viagem para Moçambique foi a primeira jornada fora de seu País, ele nunca esteve tão longe de casa.

Partindo de Gwere, pegou primeiramente um ônibus até a capital Harare, e de lá outro para Mutare, já próximo a fronteira com Moçambique. Em um percurso de quase 9 horas, sem paragens, sem comida em cadeiras apertadas e velhas viajavam com ele, Zimbábweanos a visitar parentes, viajar, e alguns como ele indo em direção a fronteira. (veja no mapa)



De Mutare para a fronteira, Dillen foi obrigado a utilizar o "chapa", uma Kombi muito velha (veja foto dos chapas de Moçambique) que faz o transporte até a fronteira.
Foto: Chapas em Moçambique, meio de tranporte púplico 5 MT

Já comentei aqui mas não custa nada repetir, passar por uma fronteira terrestre é algo muito interessante, ver os portões de grades e arrames farpados, a cruzar todo o horizonte, filas de pessoas a apresentar documentos e carros a serem revistados, tudo com um ar que mistura asiedade e medo é algo medieval, realmente MEDIEVAL nada de “guichês”, passaportes, ordem ou limpesa, mas existem os freehops, que básicamente vendem bebidas.

Em Moçambique

Passada a Fronteira, Dillen estava em território Moçambicano, mais especificamente na província de Manica, assim como qualquer fronteira, havia o grande vazio, um cerrado e uma longa estrada.

O dinheiro que tinha para a viagem havia acabado, e para continuar a jornada, Dillen pediu ajuda a uma zimbabweana, que vinha com ele no chapa. Ela iria cruzar a fronteira com muito dinheiro e pediu ajuda a ele para esconder o dinheiro em suas meias, cueca, sapatos.

Foi por intermédio dessa ajuda que ela se prontificou a pagar um chapa da fronteira até a cidade de Chimoio.

Já em Moçambique, Dillen percebeu o começo do seu desafio. A única pessoa com quem ele conseguia conversar era com a mulher dos “milhares de dólares zimbabeueanos”, que assim como ele, fala fluentemente shona. Os demais passageiros eram todos moçambicanos, conversavam em portugês ou dialetos, no chapa não havia ninguém que falasse shona ou inglês.

Com o cansaço, nosso professor acabou por dormir e ao acordar em seu destino; Chimoio, ele se deu conta de que a a mulher havia descido no meio da viagem e não tinha pago sua passagem. Em Chimoio ele conseguiu ligar para um representante de sua igreja que foi até lá acertar o valor da viagem que corresponde a 50 meticais = 2 dólares.

Ele começou a trabalhar como caseiro em Chimoio, e foi se deslocando por Moçambique até chegar em Maputo, capital.




Documentos

Assim como qualquer estrangeiro em outro país Dillen se vê com um dilema, resolver como ficar no país. Muitos africanos atravessam as fronteiras sem documentos, outros como Dillen tem passaporte, mas não querem voltar, porém Moçambique não dá visto de moradia pois a maioria deles não tem trabalho, casa ou dinheiro.

A solução passa pelo “jeitinho”, que pode custar muito caro a um africano, mas que desta maneira se consegue um atestado de nascimento, e com ele todos os documentos de um Moçambicano. Mais para frente eu escrevo sobre isso, por hora Dillen está tentando resolver o problema de seu visto.

Atualmente

Em Maputo Dillen conseguiu ajuda para imprimir alguns currículos (até isso é difícil), deixou em algumas empresas e ongs e começou a dar aulas de inglês de graça para os Moçambicanos, ele não deixou claro como fazia para viver ou morar, mas sei que não foram momentos fáceis, os moçambicanos sem dinheiro, constróem de "palha" pequenos cubículos ao relento e moram desta maneira. São 3 calças Jeans, 5 camisetas, meias, dois pares de tenis, um sapato e um fato (paletó), boa parte destas coisas dadas por mim e pelo Victor (nosso ex romnater) estes são os bens materiais que ele possui.

A história de Liberty Dillen Dhlalcama, é a mesma história de inúmeros Zimbabwanos, em fuga de suas casas, e é a mesma história que se repete nor inúmeros países Africanos, atualmente a guerra ou a “crise”está presente no Zimbabwe, Uganda, R.D. do Congo, Sierra Leoa, citando os principais.

domingo, dezembro 14, 2008

Nós na matéria da G1 Globo

Ficamos muito felizes em poder contribuir com nossos comentários e "visões" sobre - Crises na África afetam Moçambique - matéria de Isis Nóbile Diniz para o portal G1.

segue link:

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Cólera no coração da África Austral

Zimbábue a "Casa de Pedras" ao centro da África Austral, o país mais rico da África, independente desde 1980 é agora um cenário de "RESIDENT EVIL" com zumbis "coléricos".

Como não sou jornalista é claro que demorei muito mais do que esperava para conseguir escrever este texto, comecei a escrever no dia 8, feriado Muçulmano (Eid ul Adha - comemoração do final a peregrinação a meca) pouco visto no Brasil, mas que agora sei é tão grande quanto o Natal, e só terminei agora!

Infelizmente estou acompanhando as últimas notícias a respeito da cólera pelo mundo e vejo que muitas informações não estão sendo levadas em consideração: a crise política no Zimbábue de Robert Mugabe, a história política dos países fronteiriços e a atual estrutura de saúde em boa parte dos países da África Austral são fatores que indicavam a crise atual.

Assim como no Brasil, a cólera é uma doença presente, que tem que ser combatida sistematicamene, está em quase todos os países da África Austral exceto Angola e Namíbia.

(foto da fronteira em um dia comum, comércio de alimentos e "chapas" ao fundo, que negociam a viagem até a cidade mais próxima)

Zimbábue está a mais de uma década em crise e Mugabe está no poder desde 1980, seu povo esta fugindo da fome, miséria e total falta de estrutura social e governameental. Faz anos que governos de outros países assistem a esta situação e apenas foram noticiadas, em forma de ironia, notas sobre os 100.000.000 (cem milhões de dolares Zimbabueanos). E o que foi feito pela comunidade Internacional; União Européia, SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) ou UA (União Africana)? Após as eleições de 2008, houve por parte dos EUA um embargo economico, e por parte das ONGs um trabalho constante de remediar o desastre para onde se seguia o país.

Somente agora, nos últimos dias, é que estas questões estão sendo levadas ao Conselho de Segurança da ONU, principalmente pela possibilidade de uma intabilidade generalizada por toda a África Austral.

" A União Africana, que tem 53 membros, disse que a única solução para a crise política e econômica no Zimbábue são as negociações entre os rivais políticos"


Ao redor do Zimbábue, países como Moçambique, Zâmbia, Botswana vivem uma estabilidade extremamente frágil e recente, mesmo a froteira com a África do Sul, próxima sede da copa do mundo de 2010 não é preparada para qualquer situação diferente da habitual.

A economia de boa parte destes países é baseada em investimentos internacionais (doações), cerca de 60% do Pib destes países são de dinheiro internacional (em Moçambique chega a 80%), com exceção a África do Sul e Angola, não há indústrias, mercado consumidor, a maioria da população vive das machambas (agricultura de subsistência) sendo as poucas indústrias existentes nestes países extremamente frágil e incapaz de absorver tal crise.

No caso do Zimbábue praticamente toda a economia acabou, inflação de 231.000.000% não há alimentos, tudo que é produzido no Zimbábue, que já é pouco, é comprado e enviado par o estrangeiro, boa parte do que se consome de frutas e legumes em Moçambique e África do Sul é do Zimbábue, os salários, pagos em moeda Zimbabueana não tem mais valor, pois a própria moeda do País não é mais aceita em boa parte do mercado, e assim como Dillan, meu professo Zimbabuano, a tempos que os Zimbabueanos estão deixando seu País.

(foto: lado moçambicano da fronteira, uma pequena cidade sem rede de água e esgoto)



Atual situação da Cólera (estes dados mudam dia a dia)

Zimbábue:
Casos de cólera em todas as 10 províncias do País, vale a pena observar que os dados oferecidos não são mais do governo, e sim da ONU, que estima em 15.219, podendo chegar a 16.000 pessoas infectadas, e 774 casos de óbito, podendo chegar a 800, estes dados são de pessoas presentes nos centros da ONU. Com certeza os números são maiores, devido a pessoas que não procuram os centros médicos e a incapacidade da ONU de cobrir toda a extensão do país.

Estas pessoas infectadas não estão mais recebem atendimento adequado, não há mais leitos, remédios, comida e nem água potável, estão fugindo, andando dias a pé ou de boléia (de carona) para os países vizinhos, vem sem documentos, sem passaportes (quem sabe como é o passaporte do Zimbábue?), desnutridos e, sem estrutura, contaminando novas pessoas pelo caminho.

Já há relatos de cólera em Botwana e Zâmbia, países que tinha a cólera sobre controle.

Mesmo no Congo, que não faz fronteira com o Zimbábue e que passa por uma situação de guerra civil, há relatos da única organização ainda no território, os Médicos sem Fronteiras, relataram 45 casos de cólera próximos ao distrito de Goma, ao sul do país.

Mas é na África do Sul e em Moçambique, países que tiveram um surto de cólera em 2004, que se encontra um fuxo maior de pessoas em fuga e novos casos de cólera.

Na África do Sul
A fronteira terrestre de Beit Bridge, sobre o rio Lipompo, nome da Província ao norte do país, é o ponto de maior tensão, muitos Zimbabuanos estão se deslocando para lá, devido a proximidade com a capital do Zimbábue, e em busca de material de primeira necessidade: alimentos, remédios e água potável e mesmo para atravessarem a fronteira para a África do Sul em busca de tratamento, a vila de Musina, 12k de lá já relata oficialmente cerca de 619 zimbabuanos contaminados destes 66 internados e 8 casos de óbitos (isto a 3 dias atrás). Há relatos de filas de mais de 7 horas na fronteira, de pessoas sem documentos e sem condições de atravessar, estão sem rumo e sem caminho a seguir.

Não vamos esquecer que a 3 meses atrás na África do Sul houve um surto de xenofobia contra os zimbabuanos, Moçambicanos e outros povos devido a falta de trabalho no país, que teve um saldo de 6 mortes e várias casas pilhadas, além de espancamentos e roubos.

Em Moçambique a situação não está melhor, 4 dos 10 distritos fazem fronteira com Zimbábue:

(foto: Policiais da fronteira organizando a "bixa" de carros e cobrado "refresco" aos apressados)

Com fronteira terrestre com Zimbábue.

Tete:
onde a vale do Rio Doce, está trazedo 2.000 brasileiro e contruindo uma de suas unidades já relata 83 casos da doença
Manica:
relatam 116 contaminados e 48 a 51 óbitos por cólera (não confirmados).
Maputo:
um óbito, sem dados de contaminados

Sem fronteira terrestre com o Zimbábue

Zambézia:
59 casos de cólera, 2 óbitos confirmados
Cabo Delgado:
1 óbito confirmado

(fontes: números fornecidos por Jornais Moçambicanos)


O sistema de Saúde em Moçambique é extremamente falho, mas segundo as autoridades, esta sendo "preparado" para atender a população.

Atualmente um caso de cólera atendido em qualquer localidade do país vira uma ficha preenchida a mão pelo médico da localidade, estas fichas são arquivadas e enviadas mensalmente para o Ministério da Saúde por CORREIO, chega e leva em torno de um mês para ser lida e analisada, portanto o tempo de resposta do ministério da Saúde a uma Epidemia tem um atraso em média de 2 meses, isso se o correio funcionar.

Há ainda relatos como o da igreja Johan Marangue, em Manica, que se recusaram aos tratamentos e medicamentos, levando a morte de vários de seus seguidores.

Próxima postagem: A viagem daqueles que fogem do Zimbábue.

Notas:

A cólera (ou cólera asiática) é uma doença causada pelo vibrião colérico (Vibrio cholerae), uma bactéria em forma de vírgula ou bastonete que se multiplica rapidamente no intestino humano produzindo uma potente toxina que provoca diarréia intensa. Ela afeta apenas os seres humanos e a sua transmissão é diretamente dos dejetos fecais de doentes por ingestão oral, principalmente em água contaminada.

África Austral:
África do Sul
Angola
Botsuana
Lesoto
Madagáscar
Malaui
Maurícia
Moçambique
Namíbia
Suazilândia
Zâmbia
Zimbabue

Mapa do Zimbábue e fronteiras




quarta-feira, novembro 26, 2008

Dillen, meu professor Zimbabuano

Moçambique como alguns dos Países Africanos adotou um idioma unificador: o português e pelo seu território se fala mais de 20 dialetos derivados da língua Bantu: XiTsonga, XiChope, BiTonga,XiSena, XiShona, ciNyungwe, eChuwabo, eMacua, eKoti, eLomwe, ciNyanja, ciYao, XiMaconde e kiMwani, entre outros.Como estou localizado em Maputo, capital localizada ao sul do país, convivo principalmente como idioma Changana, porém para completar esta "babel", temos o terrítório cercado por países de língua Inglesa, amplamente utilizado pelas empresas e ongs em território moçambicano, isso sem falar da vasta influência Indiana, com seus mais de 50 idiomas regionais.

Tudo isso para concluir que falar mais de um idioma, é comum em Moçambique e na África, tão comum que este ano me concentrei em estudar inglês; o inglês africano digasse de passagem, pois o sotaque é extremamente forte. Ano que vem começo a estudar algum dialeto regional, changana ou Shona. Foi procurando um professor que conheci Dillen, um professor Zimbabuano, com mestrado em língua inglesa que deixou o Zimbábue, e há um ano vive em Maputo.

Dillen é meu professor de inglês, meu e da Thaís, temos encontros 2 vezes por semana, ele segue um livro de estudos da Oxford que nunca viu no original, apenas uma fotocópia que carrega, nem mesmo a cor dacapa ele sabe dizer.

Como tudo aqui, o valor das aulas foi negociada. Durante o primeiro encontro, a negociação sempre é complexa, e para dizer a verdade sempre me confundo com tudo que eles falam e sinto que acabo pagando mais, mas claro que o mais é muito menos... menos para mim e mais para eles...

As primeira aulas foram muito comportadas e demorou para conseguirmos conversar livremente, mas já adianto que agora as aulas são cheias de risadas muito divertidas. Com o passar do tempo as aulas deixaram de ser apenas sobre inglês e passaram a ser sobre a vida em Maputo, Zimbábwe e cultura africana. Logo ao fim da primeira aula achei correto pagar adiantado as aulas do mês, que seriam ao total 4.

Ao receber o valor referente ao mês inteiro, o rosto de Dillen se iluminou, ele não esperava que eu fosse dar todo aquele dinheiro já no primeiro dia de aula (USD 30)! Muito feliz ele começou a me explicar, tudo em inglês pois ele quase não fala português, que com este dinheiro ele iria começar a comer todos os dias. Foi aí que percebi que as aulas que ele estava me dando eram uma grande mudança de rumo em sua vida.

Dillen é filho de uma grande família, tem traços característicos africanos, é muito magro, diferente do brasil é negro bem escuro, com os dentes bem brancos, tem toda sua família no Zimbabwe e contas inúmeras histórias sobre seu país natal. Sorrindo conta que Moçambique
é muito atrasado, que apesar de toda a guerra de seu país, as cidades ainda são grandes e Iluminadas. A imagem que ele tem é de que o Zimbabwe é uma grande nação, a maior da África e sempre cita que seu país foi muito mais rico do que África do Sul e que foi uma colônia tão rica quanto qualquer cidade inglesa da época, mas desde o fim da colonização a Rodésia, antigo nome do Zimbabwe, houve tantas guerras que pouco sobrou do País.

Apesar de saber que Dillen recebe pelas minhas aulas e de outros alunos, ele não vive bem, ou vive com a maioria dos moçambicanos, em um quarto alugado, atrás de um bar, numa região de malária, não tem eletricidade, e se locomove a pé para economizar o dinheiro do chapa, 5 meticais (20 cents de dolar) com este dinheiro ele consegue comer dois pães.

Ontem tivemos mais uma aula, desta vez levamos um texto para lermos junto com ele, tratava-se do "The Destroyer - Robert Mugabe and the destruction of Zimbabwe" escrito por Jon Lee Anderson para o The New Worker (http://www.newyorker.com/reporting/2008/10/27/081027fa_fact_anderson) um texto muito recomendado sobre a situação atual no Zimbabwe e uma profunda análise de Robert Gabriel Mugabe.

Como era um texto que falava muito contra o governo, tive a delicadeza de perguntar o que Dellen pensava sobre o governo do seu país e após ter certeza que ele não ficaria aborrecido com o texto, propus esta leitura. Como era de se esperar não conseguimos terminar o texto, que é extremamente longo, isso por que eu tropeçava em palavras novas a cada frase e também perguntava sobre tudo a Dellen.

Foi uma boa aula sobre o seu país, Dellen nos contou sobre o sistema de eleições, contou sobre o segundo turno das eleições presidenciais, quando Mugabe poderia perder as eleições para Tsvangirai, seu rival político. Falou sobre a riqueza de Mugabe, o sétimo homem mais rico do mundo, - isto não aparece em nenhuma lista pois boa parte de seus bens, assim como os de Bin Laden estão bloqueados pelo governo Americano -, sobre como era viver no Zimbabwe e atualmente como é viver em um país onde a economia não existe mais, notas de 10 milhões de dólares são impressas para durarem semanas. Realmente aprendemos muito neste dia.

Dellen fala Inglês, Shona, está aprendendo português, é graduado e possui mestrado reconhecido pelas universidades Inglesas. Assim como boa parte dos zimbábweanos, mora fora do seu país, a espera de tempos melhores para regressar, sonha em fazer um doutorado nos EUA.Ontem, ao final de mais uma aula, Dellen sem jeito perguntou se eu poderia adiantar algum dinheiro para ele, pois o mês estava acabando e estava ficando difícil...


http://taputovaiparamaputo.blogspot.com/