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sexta-feira, julho 17, 2009

Mais despedidas...

"Luz acesa, me espera no portão, prá você ver

Que eu tô voltando prá casa"



Nossa coleção de tugas. Agora partem para novas aventuras em outros destinos. Mas ainda iremos nos cruzar!

Boa viagem a todos e tenham certeza que farão muita, muita, muita falta no reino de Moz!

PS: Nos aguardem em Portugaaaaal!!!

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Os Voortrekkers

O painel que se encontra dentro da Sala dos Heróis relata anos de história de um povo, um relato longo, mas que estou adorando estudar. Dentro da Sala dos Heróis nas quatro paredes e acima das portas laterais, há um grande painel de mármore com 2.3 metros de altura que circula toda a sala. Têm 92 metros de comprimento, foi todo esculpido em alto relevo e é lá que se encontra a história dos Voortrekkers. Peço aqueles que gostam de arte que antes de lerem o que escrevo, façam um simples exercício de lerem as imagens, pois a obra é muito clara em sua narrativa e com certeza muito mais rica que um texto. (opinião de um artista plástico).

1 - Os Voortrekkers Partem da Colônia do Cabo


O primeiro painel trata do início da jornada, a saída dos Voortrekkers da Colônia do Cabo em direção ao centro do País. Nele aparecem inúmeras características do povo, seu gado, bois e carneiros, alimentos, uma saca de grãos sendo posta no carro, utensílios domésticos (na figura da feminina a esquerda) e à direita instrumentos musicais. Ao fundo a imagem do horizonte africano com suas montanhas de cume reto (o topo das montanhas são gastas). Notam-se algumas armas (duas) vale a pena observar o rico trabalho do escultor, a profundidade criada por todo o painel é "fantástica"!

2 - Os colonos Britânicos entregam uma Bíblia aos líderes dos Voortrekkers, Jacob Uys


Apesar das discórdia existente entre os Voortrekkers e os Britânicos, havia um cavalheirismo e mesmo uma ajuda entre os povos, ambos eram católicos e muitos devotos. Este painel, assim como outros, tem a fisionomia em homenagem aos homens da época, seus rostos foram esculpidos à base de fotografias de seus líderes. Thomas Phillips entrega a bíblia a Jacob Uys em sinal de agradecimento por tudo que eles haviam feito pela colônia, mais tarde eles lutariam juntos contra os Xhosa. As vestimentas de época e a atenção aos detalhes, observar ao lado esquerdo, a mulher em 45 graus, indo para de traz da figura masculina e o detalhe do sapato coberto por uma ponta de tecido. Outro ponto interessante é a idosa sentada "avó Stoffberg" uma célebre mulher da comunidade serviu de modelo para esta imagem, que aparece de pé no painel 6.

3 - Trichardt no Soutpansberg


Imagem do primeiro grupo dos Voortrekkers, em 1835 o grupo de Trichardt (figura central) parte em direção a região de Soutpansberg, onde se fixa. Ao fundo além das montanhas da região, se vê uma construção, a primeira escola, também representada pelos livros e pelo formato triangular da porta (desenho típico das construções).
O comércio do grupo também está representado: a direita um homem segura um marfim (presa de elefante) e a esquerda outro de costas carrega uma pele de animal, estes produtos eram comercializado com os portugueses. Este grupo não ficou muito tempo nestas terras, pois sofreu muito com a malária e acabaram se locomovendo em direção ao distrito de Lourenço Marques.

4 - Chegada de Trichardt a Lourenço Marques
(atual Maputo onde moro!)


Este painel contém dois momentos, a direita se vê o cenário de uma construção portuguesa com navios, Lourenço Marques. Do grupo de Trichardt, apenas vinte homens chegaram com vida, a mulher de Trichardt aparece apoiada e doente, seus homens, representado apenas pela figura do homem cansado. Trichardt aparece em pé, entregando sua arma ao governador Portugês Antônio Gamitto, representado e usando a "camisola", uniforme, Português.

5 - Ataque dos Ndebele contra os Voortrekkers em Vegkop (1836)

Outro gurpo de Voortrekkers, este liderado por Hendrik Potgieter (1792 - 1852) (esculpido no lado externo do monumento lembra?). Com um grande grupo se fixaram na região de Thaba Nchu, local onde havia uma tensão entre grupos já fixados na região. MoroKa II, rei dos Rolong (e Makwana, rei dos Taung) receberam os Voortrekkers e assinaram um tratado, onde davam terras em troca de proteção contra os Ndebele, um grupo separatista dos Zulus entraram em conflito com os Voortrekkers. O painel mostra a batalha de Vegkop onde os Voortrekkers combateram 6.000 guerreiros Ndebele.

É possível ver o sistema defensivo dos carros-de-bois posicionados em forma circular, igual ao que vemos do lado externo do monumento, entre os carros se vê o exército Ndebele em número muito maior.

Atrás dos carros os Voortrekkers armados, homens e mulheres envolvidos no combate, lutando, atirando e sendo feridos.
Em primeiro plano vemos um grupo de mulheres a carregar as armas enquanto outro grupo, formado por uma criança (homenagem ao presidente Paul Kruger que participou da batalha com 11 anos) e duas mulheres cuidando de um ferido. Esta batalha foi ganha pelos Voortrekkers, que apesar de estarem em menor número possuíam armas de fogo. A batalha levou seu gado, roubado ou morto, o que acabou prejudicando muito os Voortrekkers que ficaram sem alimento e meio de locomoção.

6 - Retief presta Juramento como Governador dos Voortrekkers

O grupo se desloca para o Rio Vet onde continua o projeto do Estado Livre, lá Retief faz o juramento perante o Reverendo Erasmus Shith (homenageado com sua escultura feita a partir de uma foto). Em seguida o grupo se dividiu em dois, uma parte seguiu Retief em direção a Natal, enquanto outra parte, liderada por Potgieter, outro líder, parte para o combate contra os Ndebele pelas terras do acordo.

7 - Batalha contra os Ndebele em eGabeni/Kapain (1837)


Agora preparado para a batatalha os Voortrekkers liderados por Potgieter entram em combate contra os Ndebele e desta vez sai vitorioso. Segundo relatos houve uma batalha sangrenta, de um lado os Voortrekkers com armas de fogo, soldados e cavalos, do outro os Ndebele, com lanças e escudos de couro de animal montados em bois. Esta batalha resultou na movimentação os Ndebele, que cruzaram o Lipompo em busca por novas terras, entrando em conflito com os Shona. Atualmente a região do Zimbawe.

8 - Acordo de paz com Moroka do Rolong


Os Voortrekkers foram muito gratos aos Rolong e ao rei MoroKa II, que os ajudaram depois da batalha de Vegkop. Este painel representa os votos de paz dos Voortrekkers que se reuniram com o rei em sinal de paz.

Acho que este "post" já está demasiado longo, mas acho que já deu para se ter uma idéia de como foi este período, a luta pela terra e o choque entre povos muito diferentes, sempre resultando em conflitos, derrota ou submissão dos povos com menor força de "fogo".

Os Ndebele apesar de serem em número muito maiores - quase 1 para 10 - não conseguiram manter suas terras e seu local, sendo obrigados a fugirem e em "dominó" entrararem em vários conflitos.


Certamente que esta narrativa deve ser deturpada, mas o principal é este monumento que ficou e conta a história através da visão dos Voortrekkers. Vale a pena procurar esta mesma história contada pelos africanos, deve ser bem diferente.

Gostou da história? deixe seu comentário e não esqueça de votar, faltam 2 dias !

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Pretória e Voortrekkers - Parte I

Nos passeios mais simples descobrimos coisas fantásticas!
E foi exatamente isso que aconteceu em nosso terceiro dia em Johannesburg, tivemos talvez o melhor de todos os encontros. Fomos ao Monumento Voortrekkers, aprendemos muito sobre a história da África do Sul, as bases do apartheid (vidas separadas em Afrikaans) e muito sobre a relação atual entre brancos e negros.

Em menos de 40 minutos se faz a viagem de Johannesburg a cidade de Pretória, ou Tshwane. Vamos as explicações: A cidade de Pretória tem este nome devido a Andries Wilhelmus Jacobus Pretorius, primeiro presidente da "República Bôer", integrante dos Voortrekkers e consequentemente branco. Tshwane é uma palavra Xhosa, que significa "somos todos iguais".

Depois do fim do apartheid, e diga-se de passagem, depois da saída de Mandela da presidência, começou um processo de "desmonte" das características brancas em toda a África do Sul, isto é, mudança de nomes de ruas, "retirada" de esculturas em homenagem aos heróis colonizadores e qualquer outra coisa que remetesse a hegemonia branca, por isso a importância deste monumento.


Fomos para Pretória "Tshwane" para vermos os documentos da Thá e conhecer a cidade. Para nossa alegria todos os consulados Moçambicanos na África do Sul resolveram emendar o Natal e a Ano novo. Dessa forma, não foi possível tirar um novo visto; e olha que ligamos antes para confirmar que estariam abertos! Burocracias típicas de qualquer país...


A cidade é linda, tem um "ar" Inglês (eu acho), em meio a África. Ruas largas, bem sinalizadas, arquitetura clássica contrastando com prédios modernos, mas nada de Av. Paulista.


Primeira parada

Fomos ao Parlamento "Union Buildings", uma construção no topo de uma montanha, com vista panorâmica da cidade. Em forma de um C ou "ferradura" que tem na frente um belíssimo jardim. Aparecem, alinhadas, três estátuas. Dessas três visitamos duas:

1˚ Homenagem aos combatentes da 2˚Guerra Mundial


2˚ Homenagem a James Barry Munnik Hertzor (1924-1939) primeiro Ministro da África do Sul

Foto: Estátua de Barry Munnik Hertzor e ao fundo o Parlamento

De lá já podíamos ver: o Voortrekkers...

Voortrekkers

Grande? é um Monumento! Uma grande construção em Art Deco, erguido sobre uma montanha. Atenção; não confundir art deco alemã em pedra com a art deco francesa, do ferro e da natureza!


Ao contrário do que alguns podem pensar, Portugal esteve por aqui (África do Sul), mas nada fez além de pequenos comércios. Em 1652 os Holandeses enviaram colonos, para terem um porto de abastecimento para seus navios entre Europa e Oriente. Tempos depois este Porto (Cidade do Cabo/ CapeTow)que foi tomado Pelos Ingleses.


Estes colonos, descendentes de holandeses, franceses e alemães é que, descontentes, partiram para o leste a procura de novas terras, conhecido como "Big Trek" (grande migração) e tinham o objetivo de serem independentes de Capetown, por isso o nome "República Bôer". E foi na "Big Trek" que conheceram e entraram em conflito com o povo (ou reino?) Xhosa, os negros da África do Sul, que ao contrário dos Índios no Brasil, eram muito bem organizados em cidades e puderam combater ferozmente os invasores.

É deles, os Voortrekkers, a língua Afrikaans, uma mistura de Inglês, holandês e francês.
O lado externo do Monumento é cercado por um muro decorado por 64 "carros-de-bois" aqueles de filmes do velho oeste. O monumento possui uma "voz narrativa" da história da batalha de Blood River (Rio de Sangue) e foi esta a estrutura do acampamento; 64 carros-de-bois em forma circular que os Voortrekkers se protegiam dos ataques dos Xhosa.



Logo aos pés do monumento uma grande escultura de um mulher e um casal de filhos, representando os valores religiosos e a dura "doação" da mulher e filhos neste período.

Nos muros da escadaria e ao topo da porta de entrada, Búfalos, os animais mais temidos da África neste período, e que servem simbolicamente de "proteção" contra invasores.
Em cada um dos vértices do monumento, um lider: Piet Retief, Andries Pretorius, Hendrik Potgieter e um líder desconhecido são a "Guarda de Honra" e os alicerces do Monumento.

Subindo as escadas, nota-se a imponência do monumento, 40 metros de altura por 40 metros de diâmetro, em vários aspectos o monumento lembra o monumento alemão Völkerschlachtdenkmal (1890 a 1913) em Leipzig ,(mas esta é outra batalha...)


A entrada do monumento é pela Sala dos Heróis, um grande quadrado, Iluminado pelo sol que atravessa quatro grandes vitrais brancos de pedra. Ao centro um vão, onde se vê o Cenotáfio (do latim tardio cenotaphium, do grego κενοτάϕιον, composto de κενός " vazio" e ταϕός "tumba") nele o nome do líder Piet Retief e simbolicamente todos os Voortrekkers. No chão há um desenho em espiral. O movimento visual é da expansão contínua do povo e dos ideais dos primeiros Voortrekkers.


E o toque final, uma grande cúpula, com uma abertura para o lado externo do monumento, onde todos os anos, no dia 16 de Dezembro um grande número de descendentes se reúmem em peregrinação para ver um feixe de luz que se projeta desta abertura para o centro do cenotáfio, reforçando assim sua cultura, raça e descendência. É um momento para se lembrar e transmitir a seus filhos a história de seu povo e de suas batalhas.

Tradução da Placa de recepção, em frente ao Monumento.


O Monumento Voortrekker foi contruído entre 1937 e 1949, no estilo Art Deco. Os descendentes diretos dos líderes voortrekkers Piet Retief, Andries Pretorius e Hendrik Potgieter estão "registrados, esculpidos?" nos vértices do monumento em 16 de Dezembro de 1938. O Monumento foi Inaugurado pelo primeiro Ministro Dr. Df. Malan, e aproximadamente 250.000 pessoas em 16 de Dezembro de 1949 (data em que o feixe de luz aparece e aniversário da batalha do Blood River).

O Monumento é em comemoração aos pioneiros que participaram da migração entre 1835 e 1854, chamada "Great Trek - Grande Viagem". Durante este período aproximadamente 15.000 pioneiros viajaram para o norte, depois do "Orange River" (Rio Laranja em homenagem a Holanda, cor da holanda) e Drakensberg, indo para o interior da África do Sul. Eles Fundaram a República Boer (1852) e o Orange Free State (Estado Laranja Livre) em 1854 foram resultados diretos da "Great Trek".

Na próxima postagem vou escrever sobre o grande Painel de mármore, no Salão dos Heróis, dentro do Voortrekkers.

Segue um documentário sobre o monumento ( em Inglês com muitas imagens e informações. Vale a pena assistir para entender melhor)

quinta-feira, dezembro 18, 2008

A viagem de um Zimbabweano

De Gweru a Maputo um pequeno relato de um viajante
em busca de uma vida melhor
Liberty Dillen Dhlalcama está ficando famoso. Desde que começou a dar aulas para mim e Thá sua vida deu uma melhorada, não por ter aparecido no blog e muito menos por ter sido citado em uma matéria na Globo G1, mas por além de dar aulas para nós, à partir do ano que vem ele dará aulas para funcionários de uma Embaixada aqui em Moçambique.

Durante nossas aulas, temos longas conversas, e em uma delas, nosso professor contou como foi a jornada de sua cidade natal; Gweru até Maputo.

Nascido em Novembro de 1979, formado em Tecnologia da Informação, Dillem sempre estudou no Zimbábwe, onde deixou seus pais, 3 irmãs e um irmão.

Contando sobre seu cotidiano, Dillen afirmou que pode ver claramente a queda do País (Robert Mugabe assumiu quando ele tinha um ano de idade). Segundo ele as cidades eram muito ricas e bem estruturadas, ruas asfaltadas, bem iluminadas, com água, luz e sistema de esgoto.

Descreve que não é como Maputo, sua cidade, a terceira maior do Zimbabwe é " muito mais bonita, existiam várias salas de cinema, era possível comprar qualquer coisa do mundo nas inúmeras lojas". Até que com os anos, tudo começou a faltar, as empresas começaram a fechar e a inflação começou a subir.

Basicamente cada país Africano teve um processo de Independência diferente. O Zimbabwe fez um acordo com os estrangeiros Ingleses que lá viviam, para que eles não deixassem o país de uma hora para outra, “quebrando” a economia do país, como a maioria dos países africanos pós independência.

"Os estrangeiros tiveram 20 anos para deixarem o país". De início foi bom, pois o país se tornou independente e não sofreu tanto com a fuga de empresas e dinheiro, mas agora Robert Mugabe está nacionalizando empresas e expulsando os "estrangeiros", mas em 20 anos muitos deles se tornaram Zimbabweanos, têm filhos, família e vida no Zimbabwe.

Com a inflação descontrolada, devido as nacionalizações e a saida das empresas estrangeiras "não havia mais referência para preço de nada, de manhã íamos para o trabalho, sem saber quanto que iríamos pagar pelo maxibombo (ônibus) na volta. Ás vezes pagávamos 3 vezes o valor pago pela manhã, no final do mês, o salário não dava pra nada. Começamos a trabalhar de graça", conta.

Para manter o controle do País, o partido do governo (ZANU-PF) organiza reuniões partidárias "convidando" a população a participar. Dillen afirma que por conta dos seus estudos na universidade, era sempre convidado a essas reuniões. Aqueles que não iam poderiam ser presos, espancados e até mortos.

Percebendo que sua segurança e trabalho não estavam mais garantidos, decidiu abandonar seu país.

Para onde ir?

É interessante observar que, para quem decide sair do Zimbábwe, não há muitas opções, viajar para outros países; (Europa, América) requer muito dinheiro, documentos e autorização de governos, poucos, ou quase ninguém consegue cumprir estes quesitos. Resta os países fronteiriços Moçambique, África do Sul, Botswuana, Zâmbia - e a região das "quatro fronteiras".

Zâmbia é um país muito atrasado e pouco desenvolvido, Botswana distante e há relatos de violência, África do Sul ainda carrega as sequelas do "apartheid", há racismo entre grupos étnicos e contra os estrangeiros de todos os Países.

Moçambique é o único de lingua portuguesa, ex colônia portuguesa, tornou-se indenpendente em 1975 e ficou em guerra civil durante 16 anos. Moçambique é talvez o mais pobre, mas desde o fim de sua guerra civil não há relatos de xenofobia, racismo ou guerras étnicas, sua economia cresce 8% ao ano, durante sos últimos 10 anos.

Dillen viu nesse país o mesmo que eu, uma possibilidade de crescimento. Utilizando das ferramentas que têm; formação universitária e idioma inglês fluente, pensou que pudesse ter um diferencial e encontrar um bom emprego e uma nova vida

A viagem

Na mesma época em que me preparava para ir para Moçambique; primeiro trimestre de 2008, na ciade de Gwere, um Zimbabweano fazia os mesmos planos; tirava passaporte, comprava passagens, arrumava suas coisas e se despedia de seu País. A viagem para Moçambique foi a primeira jornada fora de seu País, ele nunca esteve tão longe de casa.

Partindo de Gwere, pegou primeiramente um ônibus até a capital Harare, e de lá outro para Mutare, já próximo a fronteira com Moçambique. Em um percurso de quase 9 horas, sem paragens, sem comida em cadeiras apertadas e velhas viajavam com ele, Zimbábweanos a visitar parentes, viajar, e alguns como ele indo em direção a fronteira. (veja no mapa)



De Mutare para a fronteira, Dillen foi obrigado a utilizar o "chapa", uma Kombi muito velha (veja foto dos chapas de Moçambique) que faz o transporte até a fronteira.
Foto: Chapas em Moçambique, meio de tranporte púplico 5 MT

Já comentei aqui mas não custa nada repetir, passar por uma fronteira terrestre é algo muito interessante, ver os portões de grades e arrames farpados, a cruzar todo o horizonte, filas de pessoas a apresentar documentos e carros a serem revistados, tudo com um ar que mistura asiedade e medo é algo medieval, realmente MEDIEVAL nada de “guichês”, passaportes, ordem ou limpesa, mas existem os freehops, que básicamente vendem bebidas.

Em Moçambique

Passada a Fronteira, Dillen estava em território Moçambicano, mais especificamente na província de Manica, assim como qualquer fronteira, havia o grande vazio, um cerrado e uma longa estrada.

O dinheiro que tinha para a viagem havia acabado, e para continuar a jornada, Dillen pediu ajuda a uma zimbabweana, que vinha com ele no chapa. Ela iria cruzar a fronteira com muito dinheiro e pediu ajuda a ele para esconder o dinheiro em suas meias, cueca, sapatos.

Foi por intermédio dessa ajuda que ela se prontificou a pagar um chapa da fronteira até a cidade de Chimoio.

Já em Moçambique, Dillen percebeu o começo do seu desafio. A única pessoa com quem ele conseguia conversar era com a mulher dos “milhares de dólares zimbabeueanos”, que assim como ele, fala fluentemente shona. Os demais passageiros eram todos moçambicanos, conversavam em portugês ou dialetos, no chapa não havia ninguém que falasse shona ou inglês.

Com o cansaço, nosso professor acabou por dormir e ao acordar em seu destino; Chimoio, ele se deu conta de que a a mulher havia descido no meio da viagem e não tinha pago sua passagem. Em Chimoio ele conseguiu ligar para um representante de sua igreja que foi até lá acertar o valor da viagem que corresponde a 50 meticais = 2 dólares.

Ele começou a trabalhar como caseiro em Chimoio, e foi se deslocando por Moçambique até chegar em Maputo, capital.




Documentos

Assim como qualquer estrangeiro em outro país Dillen se vê com um dilema, resolver como ficar no país. Muitos africanos atravessam as fronteiras sem documentos, outros como Dillen tem passaporte, mas não querem voltar, porém Moçambique não dá visto de moradia pois a maioria deles não tem trabalho, casa ou dinheiro.

A solução passa pelo “jeitinho”, que pode custar muito caro a um africano, mas que desta maneira se consegue um atestado de nascimento, e com ele todos os documentos de um Moçambicano. Mais para frente eu escrevo sobre isso, por hora Dillen está tentando resolver o problema de seu visto.

Atualmente

Em Maputo Dillen conseguiu ajuda para imprimir alguns currículos (até isso é difícil), deixou em algumas empresas e ongs e começou a dar aulas de inglês de graça para os Moçambicanos, ele não deixou claro como fazia para viver ou morar, mas sei que não foram momentos fáceis, os moçambicanos sem dinheiro, constróem de "palha" pequenos cubículos ao relento e moram desta maneira. São 3 calças Jeans, 5 camisetas, meias, dois pares de tenis, um sapato e um fato (paletó), boa parte destas coisas dadas por mim e pelo Victor (nosso ex romnater) estes são os bens materiais que ele possui.

A história de Liberty Dillen Dhlalcama, é a mesma história de inúmeros Zimbabwanos, em fuga de suas casas, e é a mesma história que se repete nor inúmeros países Africanos, atualmente a guerra ou a “crise”está presente no Zimbabwe, Uganda, R.D. do Congo, Sierra Leoa, citando os principais.

segunda-feira, novembro 17, 2008

encontro na rua

Muito mais do que estudar sobre um povo, o melhor é conviver com ele, coloco conviver pois sempre haverá uma diferença cultural.

Li um livro do Mia couto quando cheguei aqui, antes disso não havia lido nada, li também umas poesias de outro poeta chamado Craverinha, mas pessoalmente detestei o cara...

Abaixo segue um poema dele...

Pois é, eu tenho uma formação de artista plástico, mas tire deste tempero o ego e coloque um bom tempero de história e sociologia e deixe o bolo crescer!

Por causa disso sempre tive minhas criticas ao meio publicitário, ao marketing e ao mercado capitalista em geral...

mas aqui...

a principio fique muito mal impressionado com propaganda de Montblanc, Guti, Djor, entre outras que existem por aqui... mas com o passar do tempo, vejo, e vale a pena fazer alguma pesquisa a este respeito, que Moçambique (não vou falar dos outros países) tudo é extremamente falso, e equivocado.
A melhor comparação talvez seja com uma criança, com seus 10 anos de idade, copiando a seus semelhantes mas sem ter a compreensão das atitudes.
Uma propagada de marca, ou mesmo uma loja da Nike, está não só fora da realidade daqui como esta fora da própria realidade da própria Nike.

Talvez isso possa ser diferente em Angola, onde a circulação de dinheiro, até onde sei é muito maior, mas também sem proporção, uma total perda de referência de valores. (um presente é 500 dólares...)

Hoje fui parado por uma pessoa na rua, coisa que não ocorre por aqui, não neste contexto. Dário, um Moçambicano de Niassa, pediu licença e pediu minha ajuda, que eu fosse ter com o director da escola e intervir para ajuda-lo, ele precisava do documento que comprovasse que ele tinha escolaridade básica, para se candidatar a um emprego... o caso era que a escola estava a cobrar 80 meticais pelo documento, e ele não tinha. Após ouvir sua história, separei uma nota de 100 Meticais (4 dólares, 8 reais) e dei a ele. Dário, não se conteve, me abraçou e começou a chorar compulsivamente, estavamos a frente da escola, escola A Luta Continua, no bairro da Polana, conversei mais um pouco com ele, homem simples, e como muitos leva uma vida desesperada, lutando pela comida do dia... e é frequente os dias que se perde. 100 Meticais era o documento, a comida e o transporte de um dia e um pouco mais, para mim praticamente nada valia.

A história dele me valia muito mais do que o que lhe dei.

Este é o exemplo do que se vive aqui, e esta história é bonita, não vou pensar no dia de amanha dele, pois com certeza sera uma história de perda...

Aqui faço a propaganda, vendo o carro, mas quem paga a propaganda, quem ve a revista, quem compra o produto, são 10 grãos de arroz dentro de uma saca de tonelada... e estes dez querem brincar de de serem civilizados, talvez não estejam cansados de ver esta realidade, talvez simplesmente ignorem todo o resto...

Não fico mais horrorizado com estes contrates, pois sei que aqi todos são miseráveis, e muito, muito poucos não são.
De minha parte, cuido daqueles que me cercam, Bernardette, minha empregada, trato com todo o carinho possível, Dalen meu professor Zimbabueano de ingles, adoro suas histórias!
E todos aqueles que posso de alguma maneira ajudar, os ajudo, é minha maneira de ter menos peso na consciência, é mais barato que terapia, mas tenho certeza que não se é mais o mesmo depois disso.

vamos nos falar mais depois, ai te conto outras histórias, sobre os estrangeiros, Dalen, Bernadette, e um pouco sobre a Chama, a revista da primeira dama de Moçambique, meu trabalho.

boa terça!

Gabriel

Cães

Avô, os cães mordem?
Alguns, minha neta.

Quais alguns, avô?
Os cachorros desagradecidos
A quem estendemos a mão.

E os outros cães, avô?
Os outros, querida neta, os outros
Ou agradecem abanando a cauda
Ou nos lambem os dedos.

À minha neta Eurídice
To my niece Eurídice 1997