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quarta-feira, março 11, 2009

A espera no Sudão e Zimbábwe, será que vai sobrar algo?

Ontem tive uma conversa muito interessante com um amigo zimbábweano. Contente comecei a contar-lhe sobre o Tribunal Penal Internacional (TPI), sobre sua atuação e sua decisão no caso de Darfur, o presidente do Sudão agora tem uma ordem de prisão, isso é um aviso para todos na África, existe lei e cedo ou tarde ela será feita.

Achei realmente que ele ficaria feliz com a história e com o que eu contava, mas levei um "banho de água fria" quando ele começou a me fazer algumas perguntas.

- Mas então não prenderam ele?
- O que mudou para aquelas pessoas?


Assim ele começou a falar sua visão sobre tudo isso.

Se um presidente é assassino, se todos vêm que ele está a matar de fome, sede, doença ou por armas seu povo ou outros, por que esperar? Esperam o que? Que hoje ele mate mais pessoas?

Depois do pedido de prisão, quantas pessoas morreram pois ele continua solto? Quantos estupros? E quantos mais iram ocorrer até isso parar?


Prefiro o presidente Bush pois ele agiu, não ficou a esperar, esperar o que, todos já sabemos o que vai acontecer em Darfur, assim como está acontecendo no Zimbábwe...

Para nós (e eu me incluo nesta lista) a espera é fácil, estou em minha casa, assistindo tv, usando internet e comendo bem, mas para um zimbábweano ou um sudanês, na maioria das vezes é uma espera de fome, fuga, doenças, estupros. Eles não podem esperar, não existe "esperar", existe apenas sobreviver...

Claro que toda ação internacional não é assim simples, não se extingue uma chacina simplesmente se prendendo uma pessoa, e sim, continuo convicto que o Tribunal é um instrumento sério e transformador, mas depois desta conversa concordo que esta lentidão, a espera burocrática e diplomática, não é aceitável.

Nós contamos este tempo em dias, para quem está lá, cada segundo é contado com dor e muito desespero.

Mais referências:

Uma excelente matéria produzida ano passado no Zimbábwe, mostrando como é a vida nas cidades e no campo, como as crianças órfãns sobrevivem e como alguns lidam com a SIDA.


Material produzido em 2008 pelo journeymanpictures mostrando a realidade da vida e do cotidiano em campos de refugiados, ao ver estes vídeos me pergunto: quantas destas pessoas estão ainda vivas?

Vídeo sobre os refugiados de Darfur em Chad, vista do presidente Barack Obama, na época, senado dos EUA.

Outro vídeo, o melhor em minha opinião, também do
journeymanpictures relata o trabalho da UNAMID, os boinas azuis, exército da ONU no Sudão, masi específico em Darfur. Entrevistas, relatos e imagens do trabalho e da atuação do exéricito deixa claro o quão difícil é o trabalho e quanto se tem por fazer. Infelizmente não está liberado para ser posto no blog, mas ai vai o link http://www.youtube.com/watch?v=TfUHHEiOKeI

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Um presente para Mugabe

Hoje é aniversário do "presidente" do Zimbabwe Robert Mubgabe (21 de Fevereiro de 1924), o quê mandar para ele de presente?

Podemos pensar e tentar selecionar pelo que ele gosta: o Zimbabwe. Mas ele já falou que é dele, por isso não vale a pena dar o que ele já tem, talvez outro país? Acho que não, isso dá muita dor de cabeça.

Casas? Ele tem várias, acabei de saber que ele está terminando uma mansão na China.

Talvez um carro, mas tem que ser um belo carro, aqui gostam muito dos Hummers, quem sabe ele ainda não tenha, duvideodó.

Uma festa? Quem iriamos convidar? A maioria daria uma desculpa esfarrapada e não iria a festa e eu já tenho planos para hoje, além de ser difícil enconatrar garçons para a festa, a maioria parece estar com Cólera, eta desculpa esfarrapada para não se trabalhar.

Talvez algo de ouro... acho que sua mulher já comprou muito.

Bom talvez algo mais simples, já sei, vou dar uma limpadinha na praça de Moçambique que leva seu nome, será uma ação para a comunidade e em homenagem a ele, se bem que constantemente tem acidentes de carros nesta praça, acho que a praça foi mal desenhada.
Praça Robert Mugabe, na baixa da cidade de Maputo

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Boer x Zuluz

Continuando o passeio dentro do Voortrekkers, talvez esta parte da história seja mais sobre o povo Zulu...
9 - Retief Informa as negociações com Dinganê


Este painel retrata o cotidiano do grupo Voortrekker já com o estado Boer formado: mulheres costurando, homens preparando o couro, a caça e interessante observar a presença de um negro trabalhando com eles (esquerda acima). Ao centro Um cavaleiro trazendo a boa noticia que Diganê (Rei Zulu) aceita se encotrar para negociar, terras em troca de gado. O grupo, Tlokwa de Sekonyela havia roubado o gado dos Zulus.

10 - Debora Retief Pinta o nome de seu pai em uma rocha


Outro local de encontro dos Voortrekkers é a rocha com o nome P. Pretief 12 de Novembro de 1837, aqui temos novamente o cotidiano pacato dos Voortrekkers, crianças brincando de boneca e de carro de boi, brinquedo feito com ossos de boi.

11 - Viagem para o Natal


Os Voortrekkers iniciam a travessia das montanhas Drakensberg em direção a Natal, uma viagem longa e difícil, cerca de 1.000 carros de bois começaram a travessia. A viagem foi muito dura, a descida das montanhas eram muito íngremes e com pedras, para esta travessia se retiravam as rodas traseiras dos carros e substituíam por troncos, que serviam de "breques" (veja detalhe)


12 - Dia da assinatura do acordo com os Zulus (4 de Fevereiro de 1838)


Lembra-se do painel 9? Então, no meio da viagem para Natal os Voortrekkers passam pelas terras dos Zulus a maior civilização da "África do Sul" para assinar um acordo onde trocariam gado por terras (14 de Fevereiro de 1838).

A esquerda o povo Zulu, todos ajoelhados em respeito a seu líder Dingane,"o Grande Elefante" sentado a mesa de negociação, a seu lado um Zulu fica com as mãos para recolher os "cuspe" é isso mesmo acredita? Segundo o que estudei ele tinha medo de ser enfeitiçado, ˜ão sei se isso era real ou apenas uma maneira de "satirizar o líder" mas em fim... A Direita o grupo dos Voortrekkers e Retief sentado a mesa de negociações.

Detalhes interessantes: Ao fundo se vê as construções típicas africanas, casas de palha circulares; a diferença entre os bancos de Dingane e Retief; a riqueza de detalhes dos dois líderes e o dedo indicando para o local de assinatura e o rei com uma pena assinando no local, será que ele sabia assinar um documento?

13 - O Golpe (6 de Fevereiro de 1838)


Após a assinatura Digane convida para que os Voortrekkers venham a Umgungundlovo para participarem de uma celebração. E no meio da celebração o povo Zulu ataca e mata todos os Voortrekkers.
70 homens e 30 negros que trabalhavam com eles foram mortos a pedras e tacapes em um local chamado até hoje de Vale da Morte, Retief foi o último a ser morto, antes teve que assistir a morte de todos, inclusive de deu filho.
Até então os homens liderados por Retief fizeram acordos e circularam as terras dos Xhosas, e Zulus, pois sabiam das guerras sangrentas por terras que marcavam estes povos, o que eles não esperavam era que os Zulus, muito parecidos com a cultura "espartana" mantinham uma cultura de guerreiros e de expansão territorial, não havendo negociação para isso, o chamado Mfeca­ne - (ver no final deste post!)

Nos detalhes: Ao fundo se vê desenho da "cidade" de Umgungundlovo em formas circulares e o único de pé, a assistir ao massacre é Retief.

14 - Ataque dos Zulus ao Laager em Bloukans (17 de Fevereiro de 1838)

Em 11 dias o exército Zulu, com cerca de 10.000 guerreiros parte de Umgungundlovo e chega a Bloukrans, onde encontra e mata cerca de 500 Voortrekkers que não esperavam pelo ataque. Deste ataque algumas sobreviventes viraram Heroínas e puderam contar suas histórias de terror: Johanna van der Merwe, foi apunhalada 21 vezes e Catharina Prinsloo, 23 vezes.

15 - O Aviso

Novamente a mulher é o foco do painel, Nete Heila e Fea Robertse e outras fogem do ataque e conseguem chegar a outro grupo Vorotreekker, liderado por Piet Uys, avisando do ataque.

16 - O Contra ataque (18 de Abril de 1838)


Piet Uys organiza um contra ataque aos Zulus, e parte fortemente armado "com carabinas", mas são emboscados e derrotados pelos guerreiros Zulus com seus grandes escudos e curtas zagaias, levavam a luta para o "corpo a corpo". O Grupo restante se reorganizou e passou a organizar a retirada dos restantes, saindo das terras Zulus. Nesta altura um novo problema abalava os Voortrekkers, seus lideres haviam caído em batalha e não havia uma pessoa forte para liderar o confronto.

17 - Herói de Guerra

Este pequeno painel, é em homenagem a Marthinus Oosthuizen, que bravamente, socorreu um laager cercado.
O laarge de Van Rensburg estava cercado e sem munição, a beira de ser destruído, quando Marthinus atravessa com seu cavalo os guerreiros Zulus levando polvora e balas para dentro do laarge, salvando da derrota certa.


Mfeca­ne foi o nome deste período onde a expansão Zulu levou a grandes migrações, fugas e consolidações de novos reinos
Alguns mas consequências desta expansão:

Moshoeshoe I do Lesotho conseguiu unificar os clãs da região montanhosa do actual território de KwaZulu-Natal, (ver mapa) construindo fortes nas montanhas e mantendo um complexo processo diplomático que permitiu a manutenção da sua autonomia face aos europeus e aos povos vizinhos, repelindo múltiplas agressões. Este processo levou à formação do atual reino do Lesotho.

Zwangendaba, um dos comandantes do exército Ndwandwe, retirou para norte com Soshangane. Continuando para além do território atual de Moçambique, fundou um Estado nguni na região entre o lago Malawi e o lago Tanganyika.

Sobhuza, um dos líderes Ngwane, por volta de 1820 conduziu o seu povo para as regiões montanhosas de maior altitude como forma de se proteger dos ataques dos Zulu. Após esta migração, os Ngwane passaram a ser conhecidos por Swazi, e Sobhuza fundou o reino Swazi naquilo que é hoje a região central da Suazilândia.

O general zulu Mzilikazi entrou em ruptura com Shaka e fundou o reino Ndebele no território que é hoje o Estado Livre de Orange e partes do Transvaal. Quando os bóeres do Grande Trek entraram naquela região em 1837, derrotas em diversas escaramuças convenceram Mzilikazi a mudar-se para o território a norte do rio Limpopo e a estabelecer um Estado Ndebele na região hoje conhecida por Matabeleland, no sul do atual Zimbabwe.

sites:
http://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2008/11/chaka-os-zulus-e-os-beres.html

quinta-feira, dezembro 18, 2008

A viagem de um Zimbabweano

De Gweru a Maputo um pequeno relato de um viajante
em busca de uma vida melhor
Liberty Dillen Dhlalcama está ficando famoso. Desde que começou a dar aulas para mim e Thá sua vida deu uma melhorada, não por ter aparecido no blog e muito menos por ter sido citado em uma matéria na Globo G1, mas por além de dar aulas para nós, à partir do ano que vem ele dará aulas para funcionários de uma Embaixada aqui em Moçambique.

Durante nossas aulas, temos longas conversas, e em uma delas, nosso professor contou como foi a jornada de sua cidade natal; Gweru até Maputo.

Nascido em Novembro de 1979, formado em Tecnologia da Informação, Dillem sempre estudou no Zimbábwe, onde deixou seus pais, 3 irmãs e um irmão.

Contando sobre seu cotidiano, Dillen afirmou que pode ver claramente a queda do País (Robert Mugabe assumiu quando ele tinha um ano de idade). Segundo ele as cidades eram muito ricas e bem estruturadas, ruas asfaltadas, bem iluminadas, com água, luz e sistema de esgoto.

Descreve que não é como Maputo, sua cidade, a terceira maior do Zimbabwe é " muito mais bonita, existiam várias salas de cinema, era possível comprar qualquer coisa do mundo nas inúmeras lojas". Até que com os anos, tudo começou a faltar, as empresas começaram a fechar e a inflação começou a subir.

Basicamente cada país Africano teve um processo de Independência diferente. O Zimbabwe fez um acordo com os estrangeiros Ingleses que lá viviam, para que eles não deixassem o país de uma hora para outra, “quebrando” a economia do país, como a maioria dos países africanos pós independência.

"Os estrangeiros tiveram 20 anos para deixarem o país". De início foi bom, pois o país se tornou independente e não sofreu tanto com a fuga de empresas e dinheiro, mas agora Robert Mugabe está nacionalizando empresas e expulsando os "estrangeiros", mas em 20 anos muitos deles se tornaram Zimbabweanos, têm filhos, família e vida no Zimbabwe.

Com a inflação descontrolada, devido as nacionalizações e a saida das empresas estrangeiras "não havia mais referência para preço de nada, de manhã íamos para o trabalho, sem saber quanto que iríamos pagar pelo maxibombo (ônibus) na volta. Ás vezes pagávamos 3 vezes o valor pago pela manhã, no final do mês, o salário não dava pra nada. Começamos a trabalhar de graça", conta.

Para manter o controle do País, o partido do governo (ZANU-PF) organiza reuniões partidárias "convidando" a população a participar. Dillen afirma que por conta dos seus estudos na universidade, era sempre convidado a essas reuniões. Aqueles que não iam poderiam ser presos, espancados e até mortos.

Percebendo que sua segurança e trabalho não estavam mais garantidos, decidiu abandonar seu país.

Para onde ir?

É interessante observar que, para quem decide sair do Zimbábwe, não há muitas opções, viajar para outros países; (Europa, América) requer muito dinheiro, documentos e autorização de governos, poucos, ou quase ninguém consegue cumprir estes quesitos. Resta os países fronteiriços Moçambique, África do Sul, Botswuana, Zâmbia - e a região das "quatro fronteiras".

Zâmbia é um país muito atrasado e pouco desenvolvido, Botswana distante e há relatos de violência, África do Sul ainda carrega as sequelas do "apartheid", há racismo entre grupos étnicos e contra os estrangeiros de todos os Países.

Moçambique é o único de lingua portuguesa, ex colônia portuguesa, tornou-se indenpendente em 1975 e ficou em guerra civil durante 16 anos. Moçambique é talvez o mais pobre, mas desde o fim de sua guerra civil não há relatos de xenofobia, racismo ou guerras étnicas, sua economia cresce 8% ao ano, durante sos últimos 10 anos.

Dillen viu nesse país o mesmo que eu, uma possibilidade de crescimento. Utilizando das ferramentas que têm; formação universitária e idioma inglês fluente, pensou que pudesse ter um diferencial e encontrar um bom emprego e uma nova vida

A viagem

Na mesma época em que me preparava para ir para Moçambique; primeiro trimestre de 2008, na ciade de Gwere, um Zimbabweano fazia os mesmos planos; tirava passaporte, comprava passagens, arrumava suas coisas e se despedia de seu País. A viagem para Moçambique foi a primeira jornada fora de seu País, ele nunca esteve tão longe de casa.

Partindo de Gwere, pegou primeiramente um ônibus até a capital Harare, e de lá outro para Mutare, já próximo a fronteira com Moçambique. Em um percurso de quase 9 horas, sem paragens, sem comida em cadeiras apertadas e velhas viajavam com ele, Zimbábweanos a visitar parentes, viajar, e alguns como ele indo em direção a fronteira. (veja no mapa)



De Mutare para a fronteira, Dillen foi obrigado a utilizar o "chapa", uma Kombi muito velha (veja foto dos chapas de Moçambique) que faz o transporte até a fronteira.
Foto: Chapas em Moçambique, meio de tranporte púplico 5 MT

Já comentei aqui mas não custa nada repetir, passar por uma fronteira terrestre é algo muito interessante, ver os portões de grades e arrames farpados, a cruzar todo o horizonte, filas de pessoas a apresentar documentos e carros a serem revistados, tudo com um ar que mistura asiedade e medo é algo medieval, realmente MEDIEVAL nada de “guichês”, passaportes, ordem ou limpesa, mas existem os freehops, que básicamente vendem bebidas.

Em Moçambique

Passada a Fronteira, Dillen estava em território Moçambicano, mais especificamente na província de Manica, assim como qualquer fronteira, havia o grande vazio, um cerrado e uma longa estrada.

O dinheiro que tinha para a viagem havia acabado, e para continuar a jornada, Dillen pediu ajuda a uma zimbabweana, que vinha com ele no chapa. Ela iria cruzar a fronteira com muito dinheiro e pediu ajuda a ele para esconder o dinheiro em suas meias, cueca, sapatos.

Foi por intermédio dessa ajuda que ela se prontificou a pagar um chapa da fronteira até a cidade de Chimoio.

Já em Moçambique, Dillen percebeu o começo do seu desafio. A única pessoa com quem ele conseguia conversar era com a mulher dos “milhares de dólares zimbabeueanos”, que assim como ele, fala fluentemente shona. Os demais passageiros eram todos moçambicanos, conversavam em portugês ou dialetos, no chapa não havia ninguém que falasse shona ou inglês.

Com o cansaço, nosso professor acabou por dormir e ao acordar em seu destino; Chimoio, ele se deu conta de que a a mulher havia descido no meio da viagem e não tinha pago sua passagem. Em Chimoio ele conseguiu ligar para um representante de sua igreja que foi até lá acertar o valor da viagem que corresponde a 50 meticais = 2 dólares.

Ele começou a trabalhar como caseiro em Chimoio, e foi se deslocando por Moçambique até chegar em Maputo, capital.




Documentos

Assim como qualquer estrangeiro em outro país Dillen se vê com um dilema, resolver como ficar no país. Muitos africanos atravessam as fronteiras sem documentos, outros como Dillen tem passaporte, mas não querem voltar, porém Moçambique não dá visto de moradia pois a maioria deles não tem trabalho, casa ou dinheiro.

A solução passa pelo “jeitinho”, que pode custar muito caro a um africano, mas que desta maneira se consegue um atestado de nascimento, e com ele todos os documentos de um Moçambicano. Mais para frente eu escrevo sobre isso, por hora Dillen está tentando resolver o problema de seu visto.

Atualmente

Em Maputo Dillen conseguiu ajuda para imprimir alguns currículos (até isso é difícil), deixou em algumas empresas e ongs e começou a dar aulas de inglês de graça para os Moçambicanos, ele não deixou claro como fazia para viver ou morar, mas sei que não foram momentos fáceis, os moçambicanos sem dinheiro, constróem de "palha" pequenos cubículos ao relento e moram desta maneira. São 3 calças Jeans, 5 camisetas, meias, dois pares de tenis, um sapato e um fato (paletó), boa parte destas coisas dadas por mim e pelo Victor (nosso ex romnater) estes são os bens materiais que ele possui.

A história de Liberty Dillen Dhlalcama, é a mesma história de inúmeros Zimbabwanos, em fuga de suas casas, e é a mesma história que se repete nor inúmeros países Africanos, atualmente a guerra ou a “crise”está presente no Zimbabwe, Uganda, R.D. do Congo, Sierra Leoa, citando os principais.

domingo, dezembro 14, 2008

Nós na matéria da G1 Globo

Ficamos muito felizes em poder contribuir com nossos comentários e "visões" sobre - Crises na África afetam Moçambique - matéria de Isis Nóbile Diniz para o portal G1.

segue link:

quarta-feira, novembro 26, 2008

Dillen, meu professor Zimbabuano

Moçambique como alguns dos Países Africanos adotou um idioma unificador: o português e pelo seu território se fala mais de 20 dialetos derivados da língua Bantu: XiTsonga, XiChope, BiTonga,XiSena, XiShona, ciNyungwe, eChuwabo, eMacua, eKoti, eLomwe, ciNyanja, ciYao, XiMaconde e kiMwani, entre outros.Como estou localizado em Maputo, capital localizada ao sul do país, convivo principalmente como idioma Changana, porém para completar esta "babel", temos o terrítório cercado por países de língua Inglesa, amplamente utilizado pelas empresas e ongs em território moçambicano, isso sem falar da vasta influência Indiana, com seus mais de 50 idiomas regionais.

Tudo isso para concluir que falar mais de um idioma, é comum em Moçambique e na África, tão comum que este ano me concentrei em estudar inglês; o inglês africano digasse de passagem, pois o sotaque é extremamente forte. Ano que vem começo a estudar algum dialeto regional, changana ou Shona. Foi procurando um professor que conheci Dillen, um professor Zimbabuano, com mestrado em língua inglesa que deixou o Zimbábue, e há um ano vive em Maputo.

Dillen é meu professor de inglês, meu e da Thaís, temos encontros 2 vezes por semana, ele segue um livro de estudos da Oxford que nunca viu no original, apenas uma fotocópia que carrega, nem mesmo a cor dacapa ele sabe dizer.

Como tudo aqui, o valor das aulas foi negociada. Durante o primeiro encontro, a negociação sempre é complexa, e para dizer a verdade sempre me confundo com tudo que eles falam e sinto que acabo pagando mais, mas claro que o mais é muito menos... menos para mim e mais para eles...

As primeira aulas foram muito comportadas e demorou para conseguirmos conversar livremente, mas já adianto que agora as aulas são cheias de risadas muito divertidas. Com o passar do tempo as aulas deixaram de ser apenas sobre inglês e passaram a ser sobre a vida em Maputo, Zimbábwe e cultura africana. Logo ao fim da primeira aula achei correto pagar adiantado as aulas do mês, que seriam ao total 4.

Ao receber o valor referente ao mês inteiro, o rosto de Dillen se iluminou, ele não esperava que eu fosse dar todo aquele dinheiro já no primeiro dia de aula (USD 30)! Muito feliz ele começou a me explicar, tudo em inglês pois ele quase não fala português, que com este dinheiro ele iria começar a comer todos os dias. Foi aí que percebi que as aulas que ele estava me dando eram uma grande mudança de rumo em sua vida.

Dillen é filho de uma grande família, tem traços característicos africanos, é muito magro, diferente do brasil é negro bem escuro, com os dentes bem brancos, tem toda sua família no Zimbabwe e contas inúmeras histórias sobre seu país natal. Sorrindo conta que Moçambique
é muito atrasado, que apesar de toda a guerra de seu país, as cidades ainda são grandes e Iluminadas. A imagem que ele tem é de que o Zimbabwe é uma grande nação, a maior da África e sempre cita que seu país foi muito mais rico do que África do Sul e que foi uma colônia tão rica quanto qualquer cidade inglesa da época, mas desde o fim da colonização a Rodésia, antigo nome do Zimbabwe, houve tantas guerras que pouco sobrou do País.

Apesar de saber que Dillen recebe pelas minhas aulas e de outros alunos, ele não vive bem, ou vive com a maioria dos moçambicanos, em um quarto alugado, atrás de um bar, numa região de malária, não tem eletricidade, e se locomove a pé para economizar o dinheiro do chapa, 5 meticais (20 cents de dolar) com este dinheiro ele consegue comer dois pães.

Ontem tivemos mais uma aula, desta vez levamos um texto para lermos junto com ele, tratava-se do "The Destroyer - Robert Mugabe and the destruction of Zimbabwe" escrito por Jon Lee Anderson para o The New Worker (http://www.newyorker.com/reporting/2008/10/27/081027fa_fact_anderson) um texto muito recomendado sobre a situação atual no Zimbabwe e uma profunda análise de Robert Gabriel Mugabe.

Como era um texto que falava muito contra o governo, tive a delicadeza de perguntar o que Dellen pensava sobre o governo do seu país e após ter certeza que ele não ficaria aborrecido com o texto, propus esta leitura. Como era de se esperar não conseguimos terminar o texto, que é extremamente longo, isso por que eu tropeçava em palavras novas a cada frase e também perguntava sobre tudo a Dellen.

Foi uma boa aula sobre o seu país, Dellen nos contou sobre o sistema de eleições, contou sobre o segundo turno das eleições presidenciais, quando Mugabe poderia perder as eleições para Tsvangirai, seu rival político. Falou sobre a riqueza de Mugabe, o sétimo homem mais rico do mundo, - isto não aparece em nenhuma lista pois boa parte de seus bens, assim como os de Bin Laden estão bloqueados pelo governo Americano -, sobre como era viver no Zimbabwe e atualmente como é viver em um país onde a economia não existe mais, notas de 10 milhões de dólares são impressas para durarem semanas. Realmente aprendemos muito neste dia.

Dellen fala Inglês, Shona, está aprendendo português, é graduado e possui mestrado reconhecido pelas universidades Inglesas. Assim como boa parte dos zimbábweanos, mora fora do seu país, a espera de tempos melhores para regressar, sonha em fazer um doutorado nos EUA.Ontem, ao final de mais uma aula, Dellen sem jeito perguntou se eu poderia adiantar algum dinheiro para ele, pois o mês estava acabando e estava ficando difícil...


http://taputovaiparamaputo.blogspot.com/