quinta-feira, fevereiro 19, 2009

África Global


"Música hindu contrabandiada por ciganos poloneses faz sucesso,
no interior da Bolívia zebras africanas
e cangurus australianos no zoológico de Londres.
Múmias egípcias e artefactos incas no museu de Nova York"
Titãs

E não é que estou vivendo uma música dos Titãs!

Pois é, até uma simples compra pode se tornar algo "globalizado" isto por que todos os produtos são importados, e nada melhor que importar do nossos vizinhos Índia, China ou amigos Árabes.

Nestas horas tenho muitas saudades do Brasil, informações como validade, procedência, calorias e tudo mais nunca estão claras, na verdade em boa parte não estão nem escritas e quando há, estão em indiano, árabe, chines, inglês e raras exceções vindas do Brasil em português.

Por aqui o Brasil domina o mercado de Frangos, Sadia e Perdigão (Perdix) controlam o mercado de tal maneira que praticamente não há frango moçambicano congelado, apenas para o abate "ao vivo". Rezo para que os frangos congelados tenham sido bem manuseados durante todo o percurso, até chegar em minhas mãos.

A parte boa é que nunca vi tantos temperos em toda a minha vida, agora com a novela Caminhos das Índias, posso me gabar de poder comer em restaurantes realmente indianos e poder ter em casa todos os temperos!
E isso não fica apenas nos alimentos, tenho um aparelho de dvd indiano, que quando ligado fica todo em azul fluorescente, tenho que colocar um pano por cima para poder assistir aos dvds; e os indianos adoram!

Reclamar, ou tirar alguma dúvida sobre um produto é algo impossível, eu pergunto em português, o funcionário fala shangana, o produto está em chinês e o dono do supermercado é Indiano!

Lembra da música dos Titâs Disneylândia...

Design brasileiro trabalha para chineses em escritório em Moçambique
Adora comer Caranguejos africanos em restaurantes Tailandeses
Tem aulas de inglês com professor zimbabweano
Aluga o quarto da casa para um Americano que já foi para a Disneylândia

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Receita - Xima

Agora para a alegria de alguns e tristeza de outros, toda semana tentarei postar uma receita Moçambicana, espero não levar ninguém para o hospital por isso.

Muitos me perguntam o que é a famosa Xima, uma típica comida africana, que muda de nome de região para região, segundo um colega médico, a xima disfarça a imagem desnutrida das pessoas, uma vez que ela não tem nutrientes, mas é rica em carboidrato. É comum se ver nos hospitais pessoas completamente desnutridas, porém gordas, gordas de xima...

Xima de Arroz
500 gr de farinha de arroz ou farinha de trigo
250 gr de coco ralado (ás vezes troca-se coco ralado por óleo de cozinha e ás vezes não vai nada)
Água e sal

Faz-se o leite de coco e leva-se ao lume a ferver. Deita-se a farinha de arroz em chuva, mexendo sempre com a colher de pau para não formar grumos (aquelas bolhinhas, empastar). Tempera-se com sal e espera até ficar consistente, ponto de um purê. Coloca-se em travessa, acompanha muito bem matapa e camarão frito.

É comum para os moçambicanos só comer xima e no almoço e jantar, eles variam com um pão. Em panelas grandes vemos eles almoçando pelas pelas ruas de Maputo, certo dia pedi para que a B. nossa empregada fizesse uma xima para nós, após muita relutância de sua parte ela fez.

A consistência é de um purê, um purê branco, mas o gosto é de uma massa de pão crua. O fato é que comi apenas duas colheres e fiquei sem fome o dia inteiro, o gosto é de pão cru temperado.

A noite fui ver a xima na geleira, a pasta estava dura feito pedra, acho que se colocasse umas pedrinhas e areia aquilo daria um ótimo cimento para a construção.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Marcos, um funcionário escolar

Acho interessante contar um pouco das pessoas que nos cercam, talvez a melhor maneira de conhecermos um lugar seja pelas pessoas que lá vivem.

Marcos, é o senhor que trabalha na escola A Luta Continua, que fica em frente ao meu trabalho, a um quarteirão de onde moro. Ele é uma espécie de segurança, caseiro e coordenador de corredor da escola, sabe aquela pessoa que fica chamando os alunos,
separando brigas, abrindo e fechando o portão?

Sorridente, Marcos é menor do que eu, deve pesar uns 48kg sempre está com uma vassoura na mão ou uma outra coisa para varrer as folhas que caem das árvores. Sempre vou cumprimentá-lo, para ele é uma honra, percebo isso, pois sempre que atravesso a rua para cumprimentá-lo sua magra figura sempre se infla de forma feliz.

Me cumprimenta sempre em shangana (dixili - bom dia) e depois em português, como eu me esforço para responder em shangana, ele fica todo feliz e já despeja um monte de palavra que não faço a menor idéia do que significa.
Um sábado ele nos convidou para visitar sua escola, foi muito bom passear em uma escola pública Moçambique.

A escola primária é um edifício de dois andares, muito ampla, cercada por um grande espaço de terra batida e um campo de futebol, as paredes são muito gastas e velhas, a pintura já descasca e se vê os tijolos, a terra seca e vermelha teima em entrar nas salas, assim como um passarinho que nos acompanhava, entrando e saindo das salas.

As mesas
dos alunos são duplas, mais compridas e as crianças se sentam duas em duas, o "quadro negro" é apenas uma parede pintada de preto. Muito feliz ele vai abrindo sala por sala, mostrando onde ele trabalha, fala com orgulho que cuida de tudo, e mantém tudo muito limpinho.

Acabei perguntando algumas coisas e descobri outras, Marcos não é de Maputo, vive aqui para o trabalho, que é cuidar da escola, por isso ele recebe uma ajuda, não sei quanto, mas com certeza é muito pouco, mora na parte de traz da escola, sempre está com a mesma roupa preta, de luto pela morte da mulher. Aqui eles ficam de luto durante muito tempo, eu o conheço a 8 meses, a pelo menos 8 meses ele está de luto. Em um canto da escola ele faz sua machamba, um área de terra onde ele planta e colhe o que dá, certo dia eu paguei para ele um sanduíche do “saquina”, um carrinho de cachorro quente em frente a escola, que vende carne de vaca “morta com os preceitos muçulmanos”, ovo frito, maionese quente, alface e muito tomate souce (ketchup).
Vista da cidade de Maputo com a escola "A Luta Continua"

Muito feliz ele agradeceu: "Patrão é primeira vez que não estou sentir fome, não dói, assim vou ficar forte!"


Agora as chuvas voltaram para Maputo, é a época de chuvas, verdadeiras tempestades, o bom é que a machamba está completamente verde, Marcos deve estar comendo melhor.


Agora ele usa uma camisa velha amarela por baixo da camisa preta, acho que o luto acabou, mas ele não tem outra roupa.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Mia Couto


Meu primeiro contato com o autor Mia Couto, ocorreu em meados de Abril do ano passado. Quando Gabriel havia decidido que iria "apostar" em terras africanas, contei a mãe de uma amiga a novidade, e ela sem pestanejar comemorou e me indicou as obras do "tal" escritor Moçambicano. Em seguida, comprei o título: " O último voo do Flamingo" e dei de presente a ele.

Após alguns meses, foi minha vez de aterrisar em Maputo, com duas malas recheadas de roupas, objetos inúteis e muitos sonhos. O livro foi uma boa referência para tudo que me reservava.

Semana passada vivi uma boa experiência em terras africanas.
Dia 03 de Fevereiro, foi feriado e comemorou-se o Dia dos Heróis Moçambicanos. Nessa data em 1969, foi assassinado Eduardo Mondlane, um dos principais atores na independência de Moçambique (1˚ Presidente da FRELIMO), vitimado pela explosão de uma encomenda.

Para comemorar essa data, os Moçambicanos se dirigem a uma cidade +- 30km da capital, preparam uma bebida chamada Cahum, que segundo a tradição deve ser distribuída gratuitamente, e para acompanhar caçam um hipopótamo a margem do rio e fazem um belo "churrasco" alimentando a população que participa da comemoração.

Faz 5 meses que estou morando aqui. Descobrir e viver esse país é uma tarefa diária. Para os amantes de uma boa leitura e para aqueles interessados no continente africano, sugiro que leiam esse autor.
Na narrativa de Mia Couto é possível viajar e conhecer um pouco de Moçambique. É a história em primeira pessoa.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Dias difíceis

Acho que algo mudou nas estrelas, ou foi algum feitiço pronto daqui, mas as coisas não estão indo lá estas coisas...

Esta última semana foi um bocado tensa, começou com stress de trabalho o que sempre acontece, mas tem sempre aquele dia que vc não suporta nada, depois a Bernadette, minha empregada que adoro, mas falo pouco, apareceu com um "papo" que estava grávida e que iria abortar, sabíamos que ela tomava pírula, mas para economizar ela tomava dia sim dia não.

No dia seguinte Dillan (prof. de inglês) aparece no meu trabalho contando suas desgraças. Fora assaltado por policiais Moçambicanos; como ele não tem a documentação para ficar em Moçambique os guardas pararam ele e pediram dinheiro para não levarem ele preso, resultado, levaram o salário todo que eu havia pago naquela noite, na mesma noite ele descobriu que sua namorada estava grávido de outro, e para ajudar minha mãe teve um acidente em casa, a casa pegou fogo.

Bom ontem fui assistir ao jogo do Brasil, pelo menos ganhamos da Itália 2x0 e hoje o Blog resolveu finalmente aceitar minhas postagens, espero que a maré mude...

Agora escrevendo nem dá para acreditar, quanta coisa ruim! Alguém vai a igreja do Bomfim para mim?

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Um mês sem postas!

Desculpe a falta de noticias, mas tivemos alguns problemas técnicos e acabamos ficando sem comunicação com o blog durante quase um mês, mas prometo que a partir de hoje voltaremos com corda toda!

Um forte abraço a todos

Gabriel e Thá

sábado, fevereiro 07, 2009

Arte contemporãnea Africana

Antes tarde do que nunca! No dia 5 deste mês foi aberta a primeira galeria de arte africana em sampa, tá certo que a arte africana estava muito bem representada pelo Museu Afro, de nosso amigo Emanuel Araújo, mas há uma grande diferença entre um museu e uma galeria de arte.

O melhor de tudo o projeto está situado no centro de São Paulo, acompanhando o projeto de revitalização do centro, a galeria é situada no edifício Seguradoras, Av. São João, para os arquitetos de plantão um prédio assinado por Oscar Niemeyer, e o projeto de residencia está localizados no Hotel Central (1916), e Ramos de Azevedo, nada mal para o início das atividades?

O projeto não para por ai, a pretenção é que o Hotel torne-se um grande centro de exposições, com instalações fixas e que participe da próxima Trienal de Arte de Luanda (Angola).

Esta primeira exposição contra com os artistas Cláudio Veiga, Ihosvanny, Kiluanji, e Yonamine.

Para ver trabalhos e ter maiores informações vale a pena visitar estes sites:

http://sachisachisachi.wordpress.com/
Folha de São Paulo nota 01
Galeria 30%

de 6 de fevereiro a 21 de março,
de segunda a sexta, das 11h às 19h;
sábado, das 11h às 16h30. SOSO: Av. São João, 313, 2º andar, tel.: (11) 3222-3973. Grátis.