domingo, dezembro 28, 2008

Johannesburg aí vamos nós!

Infelizmente o Natal já se foi, e acabamos não escrevendo nada, basicamente passamos um Natal sem muito clima natalino. Por Maputo ter muitos muçulmanos esta data fica um tanto apagada.
Mas um casal de brasileiros nos salvou! Passamos o natal com eles, com direito a peru, farofa e muitas guloseimas, também fizemos um amigo secreto, onde ganhei uma cadeira de acampamento e a Thá um artesanato que depois vamos postar uma foto e vocês me digam o que acham...

A boa nova é que estou escrevendo de Johannesburg, estamos em uma viagem fantástica pela N4 uma estrada que liga Maputo a capital da África do Sul, tudo preparado para visitarmos parques, museus e tudo que uma grande cidade pode oferecer. Depois partiremos para Durban uma cidade litorânea, onde vamos passar nossa virada de ano Africana!

Ainda estamos vivendo tudo e praparando um material muito bom para postar, estamos montando um diário de viagem com fotos e depois vamos passar tudo. Garanto que nossos dias aqui estão sendo "movimentados".

Para dar um gostinho, esta é umas das primeiras fotos em johannesburg (é assim que se escreve o nome da cidade por aqui!)

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Blog de Turismo? Será?

Já era estranho ver "pontos vermelhos" que sabe Deus como chegaram a este blog, quem está no Chile, Japão, Alemanha e o que dirá dos tantos "Tugas" Portugueses que entram no site, fora os brazucas de Goiás, Manaus, e tantos outros estados. Espero contribuir e informar um pouco mais sobre este continente, "gigante por natureza".

Em qualquer noticiário internacional, observem bem, África é sempre uma "mancha" clara de onde não se fala nada; crise energética, tecnologias, dinheiro, economia, mega shows, carros, até mesmo em turismo e locais paradisíacos, nada! Fora a idéia equivocada de que África é um país.


Até mesmo sobre a copa do mundo os brasileiros praticamente esqueceram que a próxima será aqui, na África do Sul, já estamos preparando a de 2014 e pulando a de 2010. 

O continente só aparece rapidamente com notícias de malária, aids, miséria, fome, golpes militares, e no final de ano em algum especial para tocar nossos duros corações.

Como esquecer 22% de nosso planeta, ou como conseguimos ignorar 22%? É como não conhecer toda a América do Sul, Europa e mais alguns países a sua escolha ao mesmo tempo, ou se preferir, peguem 3 vezes e meia o Brasil e tire do mapa mundi. Isso é para termos uma ideia de quanto não conhecemos de nosso planeta, de nosso raça e de nós mesmos.

Ásia - 43.810.582 km²

África - 30.221.532 km² 

América do Norte 24.709.000 km²

América do Sul - 17.850.568 km²

Europa - 10.498.000 km²

Oceania - 9.008.458 km²

Brasil - 8.514.876,599 km²

Recentemente e inesperadamente este blog foi indicado para o melhor blog de turismo (?) no "Best Blog Brasil" e comecei a "martelar a cabeça" para entender o que meus textos tem de turismo.

Como assim turismo? Quem foi o "louco" que acha o Congo um ponto turístico, ou Sudão, ou mesmo Moçambique? Foi então que percebi o quanto errado eu estava.

Basicamente o turista é aquele viajante, que parte de sua casa para um novo local, com o intuito de diversão, conhecimento e prazer. Existe mil tipos de turistas e de turismos. Se segurem nas "cadeiras", mas África é o melhor turismo que alguém pode fazer em sua vida!

Parem para pensar,o continente possui 53 países, é o berço da civilização, e posso encher a boca para dizer "em África, tudo se tem ": hotéis de luxo, praias paradisíacas, maravilhas naturais, animais vivos, livres e reais, povos, culturas, civilizações praticamente tudo que uma pessoa tem de estudo pode ser visto e vivido aqui.

Onde podemos visitar países comunistas, entender a liberdade de expressão, vivenciar uma revolução social, conhecer a base religiosa de um povo, saber as raízes culturais de mais da metade do mundo e o principal, saber e dar valor a sua cultura e ao seu país de origem?


Ai vai meu convite, não é fácil viver ou visitar qualquer um dos países da África, mas é aqui que tudo é real. Para que ir ao Louvre se temos o Egito? Para que irmos para Roma, se aqui temos o berço religioso tribal de inúmeras etnias; China se temos todo o mistério de Marrocos? E posso, com certeza, para cada ponto turístico do mundo dar um de igual "magia" por aqui.

E além destes muitos mais, a experiência de ver um campo de refugiados, a emoção de ajudar, realmente ao próximo, a visão do racismo, e a compreensão de que nosso mundo não é apenas nossa casa, nossa cidade ou nosso país.

Agora vai o convite, “O Best Blogs Brazil é uma forma de reconhecer o trabalho de quem bloga no Brasil, selecionando os melhores em cada área que contribuíram para o crescimento da blogosfera como um todo e que no ano de 2008 forneceu conteúdo de boa qualidade, convidou à reflexão, emitiu opiniões, trouxe novidades, inovou, enfim, fez um bom trabalho neste ano”. Bom é isso espero o voto de todos, clique para votar,o período de votação vai até 14 de janeiro, então avisem a todos os colegas e se estiverem putos, venham para Maputo!

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Último Sábado antes do Natal!

Correria com amigos secretos, filas, trânsito, árvore de natal, presentes, falta de tempo e stress. Nada disso tem aqui!


Nada disso aconteceu este ano, tirando eu ter a experiência de ter que entrar em um "talho", como se chama o açougue em Moçambique, de resto nem "pai natal", papai noel, eu vi por aqui. Quer dizer, ver eu vi na televisão, e era de uma propaganda da Angola e nada gordinho!

Aqui as festas de fim de ano não fazem muito sucesso, acho que por dois motivos:
1 - os moçambicanos na maioria são muçulmanos não comemoram natal, nem aniversário, nem ano novo
2 - os estrangeiros que aqui comemoram pegam o 1˚ avião de volta pra casa
E nesta eu e Thá ficamos aqui com meia dúzia de "gatos pingados" brasileiros, sorte nossa ter um casal de amigos organizando um Natal, se não fosse por eles estaríamos ferrados!

Nosso final de semana foi tranquilo, andamos pela cidade com o "Beatlejuice" um carrinho vermelho caindo aos pedaços que a empresa me empresta, mas não posso reclamar, ele nos leva para todos os lados!

Seguem algumas fotos que fizemos, nós dentro do carro; claro! Não sou louco de tentar ficar tirando fotos e andando pelas ruas; isso é pedir para arranjar problema.


CFM (Caminhos de Ferro de Moçambique), onde durante as noites se torna uma "baladinha" recheada de brancos com suas verdinhas. Nessa estação também foi filmado o Blood Diamond - Diamante de Sangue com Leonardo Dicaprio.
Escultura aos combatentes da Grande Guerra, logo em frente ao CFM.

Mais fotos da vida por aqui: estes são os chapas, o meio de transporte mais comum dos cidadãos Moçambicanos. Eu já andei num destas, mas depois que a Thá chegou parei de andar, ela precisava de mim vivo aqui! ha ha



Algumas imagens dos prédios da Baixa, e claro o comércio nas ruas, onde se compra tudo, e nada tem preço, tem que negociar até a água.

Diálogo entre um estrangeiro e um comerciante de qualquer coisa na rua:

C - Bom día (atenção ao acento)
G - Quanto custa este óculos?
C - 500 Meticais; patrão
G - Tá maluco, não quero! Tá caro, vou embora
C - Ok Ok patrão, me fala teu preço.
G - Pago 50!
C - Ixi, (fala em shangana para me intimidar), leva por 400 (e já coloca o óculos na minha cabeça)
Em seguida, saio andando e aparece mais 2 vendedores de relógios, tomadas, botões...
C - Ok patrão, 300 e fechamos o negócio.
G - Pago 100!
(e ao mesmo tempo, tenho que falar para os outros milhares de vendedores que se procriaram ao meu redor que não estou interessado no produto deles)
C - Tenho 8 filhos, duas mulheres; tô a pedir! O óculos é bom de marca, patrão. (marca paraguaia feita na china)
G - Pago 100 e mostro o dinheiro (agora já são uns 8 vendedores em volta)
Com o olho brilhando ao ver a nota de 100, ele responde:
C - Ok, vou aceitar por o patrão ser brasileiro!

Resultado: é preciso muita paciência!

foto: vendedores a beira mar e uma Mama vendendo caju, com filho na capulana levada as costas.

Ah; nesse fim de semana, conhecemos uma brasileira que veio se encontrar com o namorado que vive aqui em Moçambique. Como sempre, ela chegou, porém, suas malas não. Isso é um aviso a todos que viajam para cá, saibam que vocês veem num voo e suas malas no voo seguinte. Não se desesperem, não achem que roubaram suas malas.

E essa brasileira que me refiro, lia o blog. Portanto recebemos a primeira leitora que aceitou o desafio: "Ta puto, Vai para Maputo!"

quinta-feira, dezembro 18, 2008

A viagem de um Zimbabweano

De Gweru a Maputo um pequeno relato de um viajante
em busca de uma vida melhor
Liberty Dillen Dhlalcama está ficando famoso. Desde que começou a dar aulas para mim e Thá sua vida deu uma melhorada, não por ter aparecido no blog e muito menos por ter sido citado em uma matéria na Globo G1, mas por além de dar aulas para nós, à partir do ano que vem ele dará aulas para funcionários de uma Embaixada aqui em Moçambique.

Durante nossas aulas, temos longas conversas, e em uma delas, nosso professor contou como foi a jornada de sua cidade natal; Gweru até Maputo.

Nascido em Novembro de 1979, formado em Tecnologia da Informação, Dillem sempre estudou no Zimbábwe, onde deixou seus pais, 3 irmãs e um irmão.

Contando sobre seu cotidiano, Dillen afirmou que pode ver claramente a queda do País (Robert Mugabe assumiu quando ele tinha um ano de idade). Segundo ele as cidades eram muito ricas e bem estruturadas, ruas asfaltadas, bem iluminadas, com água, luz e sistema de esgoto.

Descreve que não é como Maputo, sua cidade, a terceira maior do Zimbabwe é " muito mais bonita, existiam várias salas de cinema, era possível comprar qualquer coisa do mundo nas inúmeras lojas". Até que com os anos, tudo começou a faltar, as empresas começaram a fechar e a inflação começou a subir.

Basicamente cada país Africano teve um processo de Independência diferente. O Zimbabwe fez um acordo com os estrangeiros Ingleses que lá viviam, para que eles não deixassem o país de uma hora para outra, “quebrando” a economia do país, como a maioria dos países africanos pós independência.

"Os estrangeiros tiveram 20 anos para deixarem o país". De início foi bom, pois o país se tornou independente e não sofreu tanto com a fuga de empresas e dinheiro, mas agora Robert Mugabe está nacionalizando empresas e expulsando os "estrangeiros", mas em 20 anos muitos deles se tornaram Zimbabweanos, têm filhos, família e vida no Zimbabwe.

Com a inflação descontrolada, devido as nacionalizações e a saida das empresas estrangeiras "não havia mais referência para preço de nada, de manhã íamos para o trabalho, sem saber quanto que iríamos pagar pelo maxibombo (ônibus) na volta. Ás vezes pagávamos 3 vezes o valor pago pela manhã, no final do mês, o salário não dava pra nada. Começamos a trabalhar de graça", conta.

Para manter o controle do País, o partido do governo (ZANU-PF) organiza reuniões partidárias "convidando" a população a participar. Dillen afirma que por conta dos seus estudos na universidade, era sempre convidado a essas reuniões. Aqueles que não iam poderiam ser presos, espancados e até mortos.

Percebendo que sua segurança e trabalho não estavam mais garantidos, decidiu abandonar seu país.

Para onde ir?

É interessante observar que, para quem decide sair do Zimbábwe, não há muitas opções, viajar para outros países; (Europa, América) requer muito dinheiro, documentos e autorização de governos, poucos, ou quase ninguém consegue cumprir estes quesitos. Resta os países fronteiriços Moçambique, África do Sul, Botswuana, Zâmbia - e a região das "quatro fronteiras".

Zâmbia é um país muito atrasado e pouco desenvolvido, Botswana distante e há relatos de violência, África do Sul ainda carrega as sequelas do "apartheid", há racismo entre grupos étnicos e contra os estrangeiros de todos os Países.

Moçambique é o único de lingua portuguesa, ex colônia portuguesa, tornou-se indenpendente em 1975 e ficou em guerra civil durante 16 anos. Moçambique é talvez o mais pobre, mas desde o fim de sua guerra civil não há relatos de xenofobia, racismo ou guerras étnicas, sua economia cresce 8% ao ano, durante sos últimos 10 anos.

Dillen viu nesse país o mesmo que eu, uma possibilidade de crescimento. Utilizando das ferramentas que têm; formação universitária e idioma inglês fluente, pensou que pudesse ter um diferencial e encontrar um bom emprego e uma nova vida

A viagem

Na mesma época em que me preparava para ir para Moçambique; primeiro trimestre de 2008, na ciade de Gwere, um Zimbabweano fazia os mesmos planos; tirava passaporte, comprava passagens, arrumava suas coisas e se despedia de seu País. A viagem para Moçambique foi a primeira jornada fora de seu País, ele nunca esteve tão longe de casa.

Partindo de Gwere, pegou primeiramente um ônibus até a capital Harare, e de lá outro para Mutare, já próximo a fronteira com Moçambique. Em um percurso de quase 9 horas, sem paragens, sem comida em cadeiras apertadas e velhas viajavam com ele, Zimbábweanos a visitar parentes, viajar, e alguns como ele indo em direção a fronteira. (veja no mapa)



De Mutare para a fronteira, Dillen foi obrigado a utilizar o "chapa", uma Kombi muito velha (veja foto dos chapas de Moçambique) que faz o transporte até a fronteira.
Foto: Chapas em Moçambique, meio de tranporte púplico 5 MT

Já comentei aqui mas não custa nada repetir, passar por uma fronteira terrestre é algo muito interessante, ver os portões de grades e arrames farpados, a cruzar todo o horizonte, filas de pessoas a apresentar documentos e carros a serem revistados, tudo com um ar que mistura asiedade e medo é algo medieval, realmente MEDIEVAL nada de “guichês”, passaportes, ordem ou limpesa, mas existem os freehops, que básicamente vendem bebidas.

Em Moçambique

Passada a Fronteira, Dillen estava em território Moçambicano, mais especificamente na província de Manica, assim como qualquer fronteira, havia o grande vazio, um cerrado e uma longa estrada.

O dinheiro que tinha para a viagem havia acabado, e para continuar a jornada, Dillen pediu ajuda a uma zimbabweana, que vinha com ele no chapa. Ela iria cruzar a fronteira com muito dinheiro e pediu ajuda a ele para esconder o dinheiro em suas meias, cueca, sapatos.

Foi por intermédio dessa ajuda que ela se prontificou a pagar um chapa da fronteira até a cidade de Chimoio.

Já em Moçambique, Dillen percebeu o começo do seu desafio. A única pessoa com quem ele conseguia conversar era com a mulher dos “milhares de dólares zimbabeueanos”, que assim como ele, fala fluentemente shona. Os demais passageiros eram todos moçambicanos, conversavam em portugês ou dialetos, no chapa não havia ninguém que falasse shona ou inglês.

Com o cansaço, nosso professor acabou por dormir e ao acordar em seu destino; Chimoio, ele se deu conta de que a a mulher havia descido no meio da viagem e não tinha pago sua passagem. Em Chimoio ele conseguiu ligar para um representante de sua igreja que foi até lá acertar o valor da viagem que corresponde a 50 meticais = 2 dólares.

Ele começou a trabalhar como caseiro em Chimoio, e foi se deslocando por Moçambique até chegar em Maputo, capital.




Documentos

Assim como qualquer estrangeiro em outro país Dillen se vê com um dilema, resolver como ficar no país. Muitos africanos atravessam as fronteiras sem documentos, outros como Dillen tem passaporte, mas não querem voltar, porém Moçambique não dá visto de moradia pois a maioria deles não tem trabalho, casa ou dinheiro.

A solução passa pelo “jeitinho”, que pode custar muito caro a um africano, mas que desta maneira se consegue um atestado de nascimento, e com ele todos os documentos de um Moçambicano. Mais para frente eu escrevo sobre isso, por hora Dillen está tentando resolver o problema de seu visto.

Atualmente

Em Maputo Dillen conseguiu ajuda para imprimir alguns currículos (até isso é difícil), deixou em algumas empresas e ongs e começou a dar aulas de inglês de graça para os Moçambicanos, ele não deixou claro como fazia para viver ou morar, mas sei que não foram momentos fáceis, os moçambicanos sem dinheiro, constróem de "palha" pequenos cubículos ao relento e moram desta maneira. São 3 calças Jeans, 5 camisetas, meias, dois pares de tenis, um sapato e um fato (paletó), boa parte destas coisas dadas por mim e pelo Victor (nosso ex romnater) estes são os bens materiais que ele possui.

A história de Liberty Dillen Dhlalcama, é a mesma história de inúmeros Zimbabwanos, em fuga de suas casas, e é a mesma história que se repete nor inúmeros países Africanos, atualmente a guerra ou a “crise”está presente no Zimbabwe, Uganda, R.D. do Congo, Sierra Leoa, citando os principais.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Material de fim de ano

Chegou os cartões e o calendário de fim de ano produzidos na I.G.
O calendário irá para as escolas, e os cartões serão entregues pelo Gabinete da Primeira Dama.


domingo, dezembro 14, 2008

Nós na matéria da G1 Globo

Ficamos muito felizes em poder contribuir com nossos comentários e "visões" sobre - Crises na África afetam Moçambique - matéria de Isis Nóbile Diniz para o portal G1.

segue link:

Você Conhece Ilha de Reunião?

Na sexta passada fomos a um show no CCFM (Centro Cultural Franco Moçambicano) de um grupo musical da Ilha de Reunião, ex colônia Francesa, uma ilha depois de Madagascar ao lado das Ilhas Maurícius.

Sabia que tem gente lá?

Segue mapa (a esquerda ilha de Madagascar e Moçambique) e vídeo que fizemos.







sábado, dezembro 13, 2008

Sábado em Catembe

Sorry, sorry,
em Moçambique é
sori,sori

Aproveitando o sol de Maputo, resolvemos, eu e Thá, pegar o "ferry boat" e passar o dia em Catembe. Éramos os únicos brancos em meio a dezenas de Moçambicanos, que se expremiam em uma desorganizada "bixa" para entrar no barco. Junto vinha de tudo: compras, objetos e materiais (sacos de 50kg de arroz, placas de zinco para o telhado, cama, colchão...) e crianças amarradas nas capulanas, a brincar, "mamar" e outras a dormir.

Três grandes dificuldades:
1 - enfrentar a catinga, hoje está fazendo 38 graus!
2 - ter paciência com os "sori, sori" daqueles que passam a nossa frente, furando a "bixa"
3 - continua difícil tirar fotos deles!

seguem algumas imagens:
Nos três planos: um barco abandonado, praia de Catembe e no horizonte o barco chegando ao porto

foto: thá e eu em Catembe, apreciando a paisagem!

Baía de Maputo ao fundo e pessoas pegando ferro velho dos barcos abandonados

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Cólera no coração da África Austral

Zimbábue a "Casa de Pedras" ao centro da África Austral, o país mais rico da África, independente desde 1980 é agora um cenário de "RESIDENT EVIL" com zumbis "coléricos".

Como não sou jornalista é claro que demorei muito mais do que esperava para conseguir escrever este texto, comecei a escrever no dia 8, feriado Muçulmano (Eid ul Adha - comemoração do final a peregrinação a meca) pouco visto no Brasil, mas que agora sei é tão grande quanto o Natal, e só terminei agora!

Infelizmente estou acompanhando as últimas notícias a respeito da cólera pelo mundo e vejo que muitas informações não estão sendo levadas em consideração: a crise política no Zimbábue de Robert Mugabe, a história política dos países fronteiriços e a atual estrutura de saúde em boa parte dos países da África Austral são fatores que indicavam a crise atual.

Assim como no Brasil, a cólera é uma doença presente, que tem que ser combatida sistematicamene, está em quase todos os países da África Austral exceto Angola e Namíbia.

(foto da fronteira em um dia comum, comércio de alimentos e "chapas" ao fundo, que negociam a viagem até a cidade mais próxima)

Zimbábue está a mais de uma década em crise e Mugabe está no poder desde 1980, seu povo esta fugindo da fome, miséria e total falta de estrutura social e governameental. Faz anos que governos de outros países assistem a esta situação e apenas foram noticiadas, em forma de ironia, notas sobre os 100.000.000 (cem milhões de dolares Zimbabueanos). E o que foi feito pela comunidade Internacional; União Européia, SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) ou UA (União Africana)? Após as eleições de 2008, houve por parte dos EUA um embargo economico, e por parte das ONGs um trabalho constante de remediar o desastre para onde se seguia o país.

Somente agora, nos últimos dias, é que estas questões estão sendo levadas ao Conselho de Segurança da ONU, principalmente pela possibilidade de uma intabilidade generalizada por toda a África Austral.

" A União Africana, que tem 53 membros, disse que a única solução para a crise política e econômica no Zimbábue são as negociações entre os rivais políticos"


Ao redor do Zimbábue, países como Moçambique, Zâmbia, Botswana vivem uma estabilidade extremamente frágil e recente, mesmo a froteira com a África do Sul, próxima sede da copa do mundo de 2010 não é preparada para qualquer situação diferente da habitual.

A economia de boa parte destes países é baseada em investimentos internacionais (doações), cerca de 60% do Pib destes países são de dinheiro internacional (em Moçambique chega a 80%), com exceção a África do Sul e Angola, não há indústrias, mercado consumidor, a maioria da população vive das machambas (agricultura de subsistência) sendo as poucas indústrias existentes nestes países extremamente frágil e incapaz de absorver tal crise.

No caso do Zimbábue praticamente toda a economia acabou, inflação de 231.000.000% não há alimentos, tudo que é produzido no Zimbábue, que já é pouco, é comprado e enviado par o estrangeiro, boa parte do que se consome de frutas e legumes em Moçambique e África do Sul é do Zimbábue, os salários, pagos em moeda Zimbabueana não tem mais valor, pois a própria moeda do País não é mais aceita em boa parte do mercado, e assim como Dillan, meu professo Zimbabuano, a tempos que os Zimbabueanos estão deixando seu País.

(foto: lado moçambicano da fronteira, uma pequena cidade sem rede de água e esgoto)



Atual situação da Cólera (estes dados mudam dia a dia)

Zimbábue:
Casos de cólera em todas as 10 províncias do País, vale a pena observar que os dados oferecidos não são mais do governo, e sim da ONU, que estima em 15.219, podendo chegar a 16.000 pessoas infectadas, e 774 casos de óbito, podendo chegar a 800, estes dados são de pessoas presentes nos centros da ONU. Com certeza os números são maiores, devido a pessoas que não procuram os centros médicos e a incapacidade da ONU de cobrir toda a extensão do país.

Estas pessoas infectadas não estão mais recebem atendimento adequado, não há mais leitos, remédios, comida e nem água potável, estão fugindo, andando dias a pé ou de boléia (de carona) para os países vizinhos, vem sem documentos, sem passaportes (quem sabe como é o passaporte do Zimbábue?), desnutridos e, sem estrutura, contaminando novas pessoas pelo caminho.

Já há relatos de cólera em Botwana e Zâmbia, países que tinha a cólera sobre controle.

Mesmo no Congo, que não faz fronteira com o Zimbábue e que passa por uma situação de guerra civil, há relatos da única organização ainda no território, os Médicos sem Fronteiras, relataram 45 casos de cólera próximos ao distrito de Goma, ao sul do país.

Mas é na África do Sul e em Moçambique, países que tiveram um surto de cólera em 2004, que se encontra um fuxo maior de pessoas em fuga e novos casos de cólera.

Na África do Sul
A fronteira terrestre de Beit Bridge, sobre o rio Lipompo, nome da Província ao norte do país, é o ponto de maior tensão, muitos Zimbabuanos estão se deslocando para lá, devido a proximidade com a capital do Zimbábue, e em busca de material de primeira necessidade: alimentos, remédios e água potável e mesmo para atravessarem a fronteira para a África do Sul em busca de tratamento, a vila de Musina, 12k de lá já relata oficialmente cerca de 619 zimbabuanos contaminados destes 66 internados e 8 casos de óbitos (isto a 3 dias atrás). Há relatos de filas de mais de 7 horas na fronteira, de pessoas sem documentos e sem condições de atravessar, estão sem rumo e sem caminho a seguir.

Não vamos esquecer que a 3 meses atrás na África do Sul houve um surto de xenofobia contra os zimbabuanos, Moçambicanos e outros povos devido a falta de trabalho no país, que teve um saldo de 6 mortes e várias casas pilhadas, além de espancamentos e roubos.

Em Moçambique a situação não está melhor, 4 dos 10 distritos fazem fronteira com Zimbábue:

(foto: Policiais da fronteira organizando a "bixa" de carros e cobrado "refresco" aos apressados)

Com fronteira terrestre com Zimbábue.

Tete:
onde a vale do Rio Doce, está trazedo 2.000 brasileiro e contruindo uma de suas unidades já relata 83 casos da doença
Manica:
relatam 116 contaminados e 48 a 51 óbitos por cólera (não confirmados).
Maputo:
um óbito, sem dados de contaminados

Sem fronteira terrestre com o Zimbábue

Zambézia:
59 casos de cólera, 2 óbitos confirmados
Cabo Delgado:
1 óbito confirmado

(fontes: números fornecidos por Jornais Moçambicanos)


O sistema de Saúde em Moçambique é extremamente falho, mas segundo as autoridades, esta sendo "preparado" para atender a população.

Atualmente um caso de cólera atendido em qualquer localidade do país vira uma ficha preenchida a mão pelo médico da localidade, estas fichas são arquivadas e enviadas mensalmente para o Ministério da Saúde por CORREIO, chega e leva em torno de um mês para ser lida e analisada, portanto o tempo de resposta do ministério da Saúde a uma Epidemia tem um atraso em média de 2 meses, isso se o correio funcionar.

Há ainda relatos como o da igreja Johan Marangue, em Manica, que se recusaram aos tratamentos e medicamentos, levando a morte de vários de seus seguidores.

Próxima postagem: A viagem daqueles que fogem do Zimbábue.

Notas:

A cólera (ou cólera asiática) é uma doença causada pelo vibrião colérico (Vibrio cholerae), uma bactéria em forma de vírgula ou bastonete que se multiplica rapidamente no intestino humano produzindo uma potente toxina que provoca diarréia intensa. Ela afeta apenas os seres humanos e a sua transmissão é diretamente dos dejetos fecais de doentes por ingestão oral, principalmente em água contaminada.

África Austral:
África do Sul
Angola
Botsuana
Lesoto
Madagáscar
Malaui
Maurícia
Moçambique
Namíbia
Suazilândia
Zâmbia
Zimbabue

Mapa do Zimbábue e fronteiras




sexta-feira, dezembro 05, 2008

Até breve - despedidas!

Viver em Maputo, sendo um estrangeiro tem seus prós e contras. Como já havia comentado Maputo é a capital de Moçambique e por este motivo recebe pessoas do mundo inteiro, a maioria a trabalho.

É possível definir a relação que temos com todas as pessoas que cruzamos em períodos: curta, média e longa duração.De longa duração posso citar o Leandro Estrela, um brasileiro que entrou em contato comigo e me trouxe para esta aventura. Tem também a Tânia Pinho, uma Portuguesa, que me ajudou no processo de adaptação em terras africanas (conheci ela por um blog!), média duração se encaixam aquelas pessoas que ficam temporadas de 06 meses para algum projeto específico e os de curta duração alguns malucos que passam 10 dias ou apenas uma semana!
E é nesse “embaralhado” de pessoas que se explica as inúmeras festas que estão rotineiramente a acontecer. Sempre de boas vindas e muitas de despedidas!

Durante os últimos meses, eu e a Thá dividimos o apartamento com mais dois colegas que conhecemos aqui em Maputo! Um deles, é o Lucas, jornalista, que agora está no Brasil (voltará em janeiro) e Victor Chateaubriand (hehehe vale a pena falar o sobrenome!) que viveu aqui durante seis meses!

Cada um que vem para cá tem uma experiência diferente, V. teve as suas e nós tivemos muitas com ele! Victor é brasileiro, tem 21 anos, é estudante de Relações Internacionais nos EUA. Esse ano passou um curto período na Tanzânia e depois veio para Moçambique.

Assim como Obama, Victor é um "gajo" do mundo! Na temporada que esteve aqui, V. além de estagiar no Banco Mundial, (isso não é para qualquer um) e estudar 1 semestre em uma universidade Moçambicana (Eduardo Mondlane), V. conseguia ir a todas as festas da cidade em uma única noite! Um fôlego invejável: Festa da Mini Saia, Coconuts, Rua d`arte, Naval, festa em casas. Sempre seguido por uma grande "malta": Bernardo, Rui e várias garotinhas!


Entre almoços, festas, conversas, jogos do Brasil e risadas (ao som de funk como um bom carioca gosta) nasceu nossa amizade. Gostaria de deixar aqui o registro deste super encontro.V. me fez pensar sobre uma possível melhora do mundo. Moçambique e a África precisam ser visitadas por este tipo de pessoa, que sabe sonham em mudar o planeta e que fazem sua parte em busca de um mundo melhor.
Deixando muitas peças de roupa aqui e levando uma mala cheia de lembranças - um monte de "cacarecos" comprados na Feira do Pau (para a felicidade dos gajos que estavam a vender os artesanatos), Victor partiu para o Brasil terça-feira, dia 02 de Dezembro.

As roupas que deixou, dividi entre a Bernadette (nossa dona do lar! e Dellen meu prof Zimbabweano). Pude ver em seus rostos o que aqueles presentes representavam. Lágrimas de agradecimento, por um gesto tão simples, que nem imaginamos o valor. Assim como David (antecessor a V.) Victor deixará muita saudades e lembranças.

Mas já está marcado, nos veremos no Brasil, algum dia!

Abraços para ti!

Gabriel e Thais

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Correio de Moçambique

Estávamos a espera de receber uma encomenda do Brasil! A mãe da Thá, através dos Correios, enviou um pacote para o nosso endereço em Moçambique. O valor pago no Brasil foi alto, pois os correios cobram por quilo, isto é, 100 gramas ou um quilo equivalem a mesma taxa!

Mas para quem acha que iríamos receber o pacote em casa, aí vai a surpresa.... Moçambique não tem uma estrutura de correios feito no Brasil, ou qualquer outro lugar do mundo.
O que aconteceu? Recebemos em nossa casa, no dia 27 de Novembro, uma carta com um aviso de que havia chegado uma correspondência do Brasil para a Thaís Chystina. E aí veio a dúvida.

Onde retirar?
Onde pedir informações? Onde está a encomenda? Nenhuma dessas respostas vieram no "bendito" papelzinho, que foi deixado com a "mama", uma senhora muito gorda, que trabalha como porteira do nosso prédio.

Vale salientar como foi a entrega do aviso de recebimento por parte da "mama". Ela ficou cerca de meia hora brincando com a Thaís antes de lhe entregar o papel, fazendo suspense, isso porque receber uma notícia de encomenda do Brasil, na visão dos Moçambicanos é ganhar um mega presente. Mas convenhamos; as 8 da manhã, você atrasado para o trabalho e a Mama enrolando para dar o papel...

O sangue paulista da Thaís já começou a ferver! Sempre sorrindo, a Thaís disse inúmeras vezes:

-Vamos Mama, qual é o presente? Por favor, me dá o presente.
Depois de conversarmos com amigos brasileiros fomos direto para a agência do correio na baixa (baixa da cidade, pois Maputo tem a Alta e a Baixa, como Salvador). Descobrimos pelos nossos amigos, que é lá que chegam as correspondências internacionais. Fomos por volta das 14 horas, a temperatura era em torno de 40º graus e quem nos levou foi o Costa, taxista amigo, que nas horas vagas conserta nossa geladeira e compra gás!

O prédio do correio lembra filmes dos anos 30 no Brasil, fica na parte térrea de um prédio, sem paredes, uma área livre com um grande balcão baixo, na altura do joelho e sem ninguém para nos receber. Depois de chamarmos, uns Moçambicanos vieram ter conosco, pediram o papel e sumiram dentro de uma porta, ao fundo da sala. Pela fresta era possível ver pilhas e pilhas de pacotes! Deveríamos ter pedido para que pintassem o embrulho de vermelho no Brasil, assim seria mais fácil de encontrá-lo! Sorte! o gajo apareceu com o pacote e em seguida nos levou a uma sala lateral.

A sala funciona como uma alfânddega, todos os embrulhos tem que ser checados, isto é abertos com uma faca, daquelas de filmes de terror! Dentro da sala estavamos nós, um outro brasileiro, que pelas roupas era de alguma igreja evangélica e uma senhora de bengala.

O brasileiro da igreja estava a brigar pois não queria pagar as taxas do correio, alegava que sempre que ia retirar os pacotes tinha que pagar mais - sim aqui se paga para retirar o pacote - Como somos educados fizemos um gesto para a senhora passar na nossa frente, ela tinha um embrulho do tamanho de uma almofada, parecia leve e rápido. O funcionário pegou a "guinzo 2000 moçambicana", abriu o pacote e para a nossa surpresa voaram milhares de comprimidos na mesa inteira!

A senhora lentamente explicou que era médica que os remédios eram para ela e o funcionário mais lento ainda falava que aquilo poderiam ser drogas. Iniciou-se uma discussão de "lesmas"! Ele não tinha como checar o que eram aqueles remédios, ela era maluca ou se aproveitava da falta de estrutura e pediu tantos remédios! Nossa sorte foi que num lapso de agilidade, o funcionário pegou nosso pacote, e passou à frente. Isto é, ele parou de atender a velhinha com seus milhares de comprimidos - no minimo uns 500 - e abriu com a faca em nossa frente; o pacote que a mãe da Thá havia nos enviado. Nesse momento os olhos da Thá se encheram de lágrimas, ela ficou um tanto constrangida, pois não esperava por aquele ato. O gajo da alfândega, deu uma olhada rápida e verificou que havia apenas objetos sem muito valor: fotos, roupas, doces, dois cds, nada de drogas nem remédios! Em seguida, ele carimbou nosso papelzinho e nos encaminhou com o embrulho todo rasgado para um terceiro guichê.

No terceiro guichê; mais uma amostra da velocidade moçambicana: uma senhora estava a dormir no balcão. O guichê tinha uma placa: CAIXA. Nós a acordamos (sempre sorrindo, pois se perdermos a paciência, o negõcio se torna 10x mais lento) e mostramos o papel, agora com os 2 carimbos. Ela, a passos de tartaruga, pegou o papel, arrastou a máquina de calcular e começou uma conta que dever ser muito complexa, pois demorou uns 10 minutos! No final nos disse que tínhamos que pagar 34 meticais, equivalente a 3 reais. A Thá perguntou estarrecida, o motivo pelo qual deveria pagar, pois a mãe dela já havia pago a encomenda no Brasil. A senhorinha explicou que o valor era referente ao papel de aviso e aos dois dias de "aluguel" do espaço do correio. Isso significa que quanto mais tempo demorarmos para retirar a correspondência mais temos que pagar.

Empresas como as de telefonia, água, luz e internet tem alguma estrutura na entrega de cartas, faturas e contas. Já o correio é extremamente falho, não existe CEP, apenas nomes de ruas. Em regiões mais afastadas principalmente nas províncias ao Norte de Moçambique, as ruas não têm nem nome.

Na última sexta-feira, após quase 1 hora de espera, em um calor de 40º graus, recebemos finalmente nosso embrulho. Cores e sabores diretamente de casa.
ps. O taxista Costa nos levou e comentou que o atendimento foi bom, "aqui de vez em quando é uma bagunça, todo mundo fica a procurar suas coisas jogadas pelo chão!"