segunda-feira, novembro 17, 2008

encontro na rua

Muito mais do que estudar sobre um povo, o melhor é conviver com ele, coloco conviver pois sempre haverá uma diferença cultural.

Li um livro do Mia couto quando cheguei aqui, antes disso não havia lido nada, li também umas poesias de outro poeta chamado Craverinha, mas pessoalmente detestei o cara...

Abaixo segue um poema dele...

Pois é, eu tenho uma formação de artista plástico, mas tire deste tempero o ego e coloque um bom tempero de história e sociologia e deixe o bolo crescer!

Por causa disso sempre tive minhas criticas ao meio publicitário, ao marketing e ao mercado capitalista em geral...

mas aqui...

a principio fique muito mal impressionado com propaganda de Montblanc, Guti, Djor, entre outras que existem por aqui... mas com o passar do tempo, vejo, e vale a pena fazer alguma pesquisa a este respeito, que Moçambique (não vou falar dos outros países) tudo é extremamente falso, e equivocado.
A melhor comparação talvez seja com uma criança, com seus 10 anos de idade, copiando a seus semelhantes mas sem ter a compreensão das atitudes.
Uma propagada de marca, ou mesmo uma loja da Nike, está não só fora da realidade daqui como esta fora da própria realidade da própria Nike.

Talvez isso possa ser diferente em Angola, onde a circulação de dinheiro, até onde sei é muito maior, mas também sem proporção, uma total perda de referência de valores. (um presente é 500 dólares...)

Hoje fui parado por uma pessoa na rua, coisa que não ocorre por aqui, não neste contexto. Dário, um Moçambicano de Niassa, pediu licença e pediu minha ajuda, que eu fosse ter com o director da escola e intervir para ajuda-lo, ele precisava do documento que comprovasse que ele tinha escolaridade básica, para se candidatar a um emprego... o caso era que a escola estava a cobrar 80 meticais pelo documento, e ele não tinha. Após ouvir sua história, separei uma nota de 100 Meticais (4 dólares, 8 reais) e dei a ele. Dário, não se conteve, me abraçou e começou a chorar compulsivamente, estavamos a frente da escola, escola A Luta Continua, no bairro da Polana, conversei mais um pouco com ele, homem simples, e como muitos leva uma vida desesperada, lutando pela comida do dia... e é frequente os dias que se perde. 100 Meticais era o documento, a comida e o transporte de um dia e um pouco mais, para mim praticamente nada valia.

A história dele me valia muito mais do que o que lhe dei.

Este é o exemplo do que se vive aqui, e esta história é bonita, não vou pensar no dia de amanha dele, pois com certeza sera uma história de perda...

Aqui faço a propaganda, vendo o carro, mas quem paga a propaganda, quem ve a revista, quem compra o produto, são 10 grãos de arroz dentro de uma saca de tonelada... e estes dez querem brincar de de serem civilizados, talvez não estejam cansados de ver esta realidade, talvez simplesmente ignorem todo o resto...

Não fico mais horrorizado com estes contrates, pois sei que aqi todos são miseráveis, e muito, muito poucos não são.
De minha parte, cuido daqueles que me cercam, Bernardette, minha empregada, trato com todo o carinho possível, Dalen meu professor Zimbabueano de ingles, adoro suas histórias!
E todos aqueles que posso de alguma maneira ajudar, os ajudo, é minha maneira de ter menos peso na consciência, é mais barato que terapia, mas tenho certeza que não se é mais o mesmo depois disso.

vamos nos falar mais depois, ai te conto outras histórias, sobre os estrangeiros, Dalen, Bernadette, e um pouco sobre a Chama, a revista da primeira dama de Moçambique, meu trabalho.

boa terça!

Gabriel

Cães

Avô, os cães mordem?
Alguns, minha neta.

Quais alguns, avô?
Os cachorros desagradecidos
A quem estendemos a mão.

E os outros cães, avô?
Os outros, querida neta, os outros
Ou agradecem abanando a cauda
Ou nos lambem os dedos.

À minha neta Eurídice
To my niece Eurídice 1997

Um comentário:

Ju Martins disse...

Gabriels, não tinha noção... dá uma vontade de abraçar o mundo com as duas mãos e ajudar deus e o mundo, né.... mas não dá! gostei mesmo, vou ler os outros. continua escrevendo, viu!!!!

beijos