Tudo isso para concluir que falar mais de um idioma, é comum em Moçambique e na África, tão comum que este ano me concentrei em estudar inglês; o inglês africano digasse de passagem, pois o sotaque é extremamente forte. Ano que vem começo a estudar algum dialeto regional, changana ou Shona. Foi procurando um professor que conheci Dillen, um professor Zimbabuano, com mestrado em língua inglesa que deixou o Zimbábue, e há um ano vive em Maputo.
Dillen é meu professor de inglês, meu e da Thaís, temos encontros 2 vezes por semana, ele segue um livro de estudos da Oxford que nunca viu no original, apenas uma fotocópia que carrega, nem mesmo a cor dacapa ele sabe dizer.
Como tudo aqui, o valor das aulas foi negociada. Durante o primeiro encontro, a negociação sempre é complexa, e para dizer a verdade sempre me confundo com tudo que eles falam e sinto que acabo pagando mais, mas claro que o mais é muito menos... menos para mim e mais para eles...
As primeira aulas foram muito comportadas e demorou para conseguirmos conversar livremente, mas já adianto que agora as aulas são cheias de risadas muito divertidas. Com o passar do tempo as aulas deixaram de ser apenas sobre inglês e passaram a ser sobre a vida em Maputo, Zimbábwe e cultura africana. Logo ao fim da primeira aula achei correto pagar adiantado as aulas do mês, que seriam ao total 4.
Ao receber o valor referente ao mês inteiro, o rosto de Dillen se iluminou, ele não esperava que eu fosse dar todo aquele dinheiro já no primeiro dia de aula (USD 30)! Muito feliz ele começou a me explicar, tudo em inglês pois ele quase não fala português, que com este dinheiro ele iria começar a comer todos os dias. Foi aí que percebi que as aulas que ele estava me dando eram uma grande mudança de rumo em sua vida.
Dillen é filho de uma grande família, tem traços característicos africanos, é muito magro, diferente do brasil é negro bem escuro, com os dentes bem brancos, tem toda sua família no Zimbabwe e contas inúmeras histórias sobre seu país natal. Sorrindo conta que Moçambique
é muito atrasado, que apesar de toda a guerra de seu país, as cidades ainda são grandes e Iluminadas. A imagem que ele tem é de que o Zimbabwe é uma grande nação, a maior da África e sempre cita que seu país foi muito mais rico do que África do Sul e que foi uma colônia tão rica quanto qualquer cidade inglesa da época, mas desde o fim da colonização a Rodésia, antigo nome do Zimbabwe, houve tantas guerras que pouco sobrou do País.
Apesar de saber que Dillen recebe pelas minhas aulas e de outros alunos, ele não vive bem, ou vive com a maioria dos moçambicanos, em um quarto alugado, atrás de um bar, numa região de malária, não tem eletricidade, e se locomove a pé para economizar o dinheiro do chapa, 5 meticais (20 cents de dolar) com este dinheiro ele consegue comer dois pães.
Ontem tivemos mais uma aula, desta vez levamos um texto para lermos junto com ele, tratava-se do "The Destroyer - Robert Mugabe and the destruction of Zimbabwe" escrito por Jon Lee Anderson para o The New Worker (http://www.newyorker.com/reporting/2008/10/27/081027fa_fact_anderson ) um texto muito recomendado sobre a situação atual no Zimbabwe e uma profunda análise de Robert Gabriel Mugabe.
Como era um texto que falava muito contra o governo, tive a delicadeza de perguntar o que Dellen pensava sobre o governo do seu país e após ter certeza que ele não ficaria aborrecido com o texto, propus esta leitura. Como era de se esperar não conseguimos terminar o texto, que é extremamente longo, isso por que eu tropeçava em palavras novas a cada frase e também perguntava sobre tudo a Dellen.
Foi uma boa aula sobre o seu país, Dellen nos contou sobre o sistema de eleições, contou sobre o segundo turno das eleições presidenciais, quando Mugabe poderia perder as eleições para Tsvangirai, seu rival político. Falou sobre a riqueza de Mugabe, o sétimo homem mais rico do mundo, - isto não aparece em nenhuma lista pois boa parte de seus bens, assim como os de Bin Laden estão bloqueados pelo governo Americano -, sobre como era viver no Zimbabwe e atualmente como é viver em um país onde a economia não existe mais, notas de 10 milhões de dólares são impressas para durarem semanas. Realmente aprendemos muito neste dia.
Dellen fala Inglês, Shona, está aprendendo português, é graduado e possui mestrado reconhecido pelas universidades Inglesas. Assim como boa parte dos zimbábweanos, mora fora do seu país, a espera de tempos melhores para regressar, sonha em fazer um doutorado nos EUA.Ontem, ao final de mais uma aula, Dellen sem jeito perguntou se eu poderia adiantar algum dinheiro para ele, pois o mês estava acabando e estava ficando difícil...
Dillen é filho de uma grande família, tem traços característicos africanos, é muito magro, diferente do brasil é negro bem escuro, com os dentes bem brancos, tem toda sua família no Zimbabwe e contas inúmeras histórias sobre seu país natal. Sorrindo conta que Moçambique
é muito atrasado, que apesar de toda a guerra de seu país, as cidades ainda são grandes e Iluminadas. A imagem que ele tem é de que o Zimbabwe é uma grande nação, a maior da África e sempre cita que seu país foi muito mais rico do que África do Sul e que foi uma colônia tão rica quanto qualquer cidade inglesa da época, mas desde o fim da colonização a Rodésia, antigo nome do Zimbabwe, houve tantas guerras que pouco sobrou do País.
Apesar de saber que Dillen recebe pelas minhas aulas e de outros alunos, ele não vive bem, ou vive com a maioria dos moçambicanos, em um quarto alugado, atrás de um bar, numa região de malária, não tem eletricidade, e se locomove a pé para economizar o dinheiro do chapa, 5 meticais (20 cents de dolar) com este dinheiro ele consegue comer dois pães.
Ontem tivemos mais uma aula, desta vez levamos um texto para lermos junto com ele, tratava-se do "The Destroyer - Robert Mugabe and the destruction of Zimbabwe" escrito por Jon Lee Anderson para o The New Worker (http://www.newyorker.com/
Foi uma boa aula sobre o seu país, Dellen nos contou sobre o sistema de eleições, contou sobre o segundo turno das eleições presidenciais, quando Mugabe poderia perder as eleições para Tsvangirai, seu rival político. Falou sobre a riqueza de Mugabe, o sétimo homem mais rico do mundo, - isto não aparece em nenhuma lista pois boa parte de seus bens, assim como os de Bin Laden estão bloqueados pelo governo Americano -, sobre como era viver no Zimbabwe e atualmente como é viver em um país onde a economia não existe mais, notas de 10 milhões de dólares são impressas para durarem semanas. Realmente aprendemos muito neste dia.
Dellen fala Inglês, Shona, está aprendendo português, é graduado e possui mestrado reconhecido pelas universidades Inglesas. Assim como boa parte dos zimbábweanos, mora fora do seu país, a espera de tempos melhores para regressar, sonha em fazer um doutorado nos EUA.Ontem, ao final de mais uma aula, Dellen sem jeito perguntou se eu poderia adiantar algum dinheiro para ele, pois o mês estava acabando e estava ficando difícil...
http://taputovaiparamaputo.
11 comentários:
Sensacional o título do blog!!!! Vou colocar um link lá no meu. Ai, que delícia de saudades. Beijocas
Descobri recentemente o seu blog e o título me chamou a atenção...resolvi dar uma lida. Fiquei chocada com a parte que você fala: "com este dinheiro ele iria começar a comer todos os dias". É incrível o tamanho da pobreza deste povo. Publica mais fotos do povo. att
gabis, amei a ideia de vc ter um blog pra ontar melhor as coisas q acotnecem por aih. um beijaço pra vc e pra thá. denise
Gabriel, adorei ler teu blog e saber que você tá vivendo todas essas experiências por aí. Teu apartamento aí é muito legal!! Vou ler o blog sempre, um grande abraço!
P.S. terminei o TCC do Senac mes passado, se quiser ver como ficou da pra baixar o pdf em www.alexandreborba.com.br/tcc.zip
Seu relato é tão bem escrito que agora YOU HAVE TO WRITE IT IN ENGLISH!!! para eu compartir sua historia com meus amigos ignorantes que não falam português. beijosEMILY
Tô quase chorando aqui com a história do seu professor. 30 dólares por 1 mês de aula particular de inglês para duas pessoas, que loucura!
Thata, dá um lanche pro moço quando ele for aí, viu? Beijocas!
Gabriel, seu relato está fenomenal, todos os detalhes sobre o idioma e a cultura foram muito bem colocados, eu realmente me pergunto sobre essas questões todos os dias quando penso em vocês, aí, em Maputo!
Fiquei chocada também com a situação do povo, realmente a gente tem pouca noção dessa realidade tão distante, ainda bem que vocês estão nos deixando a par disso!
Parabéns pela coragem e obrigada pelo blog, ano que vem estou aí pra ver tudo de perto!
Beijos aos dois lindos que eu AMO!!!
"com este dinheiro ele iria começar a comer todos os dias"
Com um mestrado?
Cara, que coisa impressionante e imagino a experiência que vc está tendo.
Eu estou vivendo em uma outra realidade. Aqui na Austrália a coisa é bem diferente e quando falo sobre o Brasil, tenho a impressão que eles pensam o que penso agora, lendo sobre Moçambique.
Estou adorando o blog, muito informativo e vamos trabalhar para que o mundo melhore!
Abraços,
Joao
Gande escritor Gabriel!!!!
Gabriel...
Esse seu blog está muito 10... Estive em Maputo na pascoa, mas foi uma viagem relampago de dois dias e nem deu tempo de me comunicar contigo... Mas precisaria do teu fone para na próxima a gente se conhecer... Pra variar roubaram o espelho retrovisor do meu carro... rsrsrsrs... Essa foi as boas vindas que recebi em Maputo... rsrsrsrs...
Valeu! Saudações a familia!
Dilson
Pode me ajudar a traduzir um parágrafo ?
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